O filme italiano “Nuovo Olimpo” traz a paixão e o amor de dois homens jovens e belos que se separam por um incidente na Roma dos anos 70 e, já maduros, da mesma forma, se reencontram. Embora esteja na categoria da Netflix como LGBTQIAPN+, a narrativa não aborda questões militantes. No entanto, os conflitos relacionados ao “sair do armário” de Pietro (Andrea Di Luigi) e a bissexualidade tranquila de Enea (Damiano Gavino) são marcas que me tocam nas características desses protagonistas.
O diretor Ferzan Ospetek, premiado na Europa e heterossexual, apresenta um trabalho que foca em questões universais humanas relacionadas à separação e aos sentimentos de amor e amizade, cujas forças o tempo não apaga. O drama foi instigante para explorar o que a psicanálise pode dizer sobre o “B” da sigla da diversidade, bem como os sentimentos e relações que ocorrem com os personagens principais.
Freud, em debate com Fliess em 1901, discordou que a bissexualidade humana se explicasse pela via biológica, por sermos filhos de um homem e de uma mulher – isso, por si só, não se sustentaria com as variadas configurações familiares. O mestre vienense apostava na subjetividade: nos níveis de identificações que nos favoreceriam à dupla percepção de gênero e orientação, sobretudo na adolescência.
Ainda hoje, mesmo no meio gay, existe um certo preconceito de que o “bi” seria um enrustido. Não que não existam, mas sem generalizações, pois reprimido é quem não se permite viver seu desejo sexual. Outra questão recorrente no campo das nuances sexuais: existem heterossexuais que se percebem como tal no gênero, mas podem orientar-se como “bi” ou, quem sabe, “pansexual” – assim como os que se percebem nas outras letras enquanto gênero podem orientar-se como “bi”.
Lacan deixa claro sobre o Eu, que ele é basicamente imaginário. Aquilo que discutíamos na infância; somos o que pensamos ser, não o que os outros dizem! Voltando ao “Nuovo Olimpo”, desde “O Segredo de Brokeback Mountain”, eu não via uma história tão bonita entre personagens tipicamente masculinos. Deixando bem claro que não vejo nessas configurações uma superioridade, mas aponto que o desejo entre dois homens não implica que um ou ambos sejam necessariamente afeminados.
Destacar essas características não é um preceito ou rotulação estética negativa dos mais estereotipados, mas sim trazer o quanto a diversidade sexual comporta tudo isso e libertar aqueles que não podem ter uma relação homo ou bi sem terem que sacrificar sua percepção de imagem ou de gênero masculino (vale também para as mulheres).
O filme ainda é rico em figuras femininas, subjetivamente, como a bilheteira, que era simpatizante, amiga e confidente. Temos a namorada, numa amizade colorida com Enea, que, embora ciumenta, não tem problemas com a bissexualidade dele. A mulher de Pietro é de uma generosidade tocante e acolhedora, num amor que liberta o amado. Existem diálogos sobre amizade e amor que vão encantar qualquer alma sensível.
Quem não se chocar ao ver cenas de belos corpos másculos fazendo sexo com amor irá se emocionar com um lindo romance que mantém até o final o suspense sobre seu destino. “Nuovo Olimpo”, que é o nome do local literalmente de projeções de encontros, também é uma boa metáfora de um novo tempo no qual o amor, “desses de cinema”, é mais importante do que as inúmeras possibilidades de gênero e orientação sexual.