Nos tempos do Black-Tie

Nada se compara ao Brasil de 1979 pela quantidade de transformações que ocorreram no País e atualmente ainda rendem inúmeras discussões e reinterpretações conforme a corrente política de quem quer induzir alguma informação .

Com certeza com o fim dos AI’s (Atos Institucionais) em agosto daquele ano , ressurge uma Nova Esquerda política, sem a militância dos exilados que não entendiam a situação econômica do país e nem a aflição de uma parcela do povo brasileiro; com isso tem se o ápice do Movimento dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo com a greve de 1979 e a consagração de Luís Inácio da Silva, como líder de uma classe operária e oposição ao Governo. Tal oposição se deu pela perda salarial diante a inflação monetária existente no país, ou seja, muito trabalho e pouca comida ,onde parte significativa não tinha condições básicas para manter se. De outro lado também inexistente de modo combativo ,algum  sindicato para reestabelecer alguma relação de defesa ao trabalhador, que na visão moderna atual não seria errado comentar que o trabalhador operário da época era quase um escravo mas com carteira assinada .

Ocorreram dois comportamentos cruciais para o sucesso da oposição, primeiramente o rigor de uma censura baseado na ordem social , que ao invés de reprimir trouxe no segundo comportamento a empatia por parte da classe média que era temerária a tecer alguma posição contra o governo, pois, bem, a grande diferença de Luís Inácio da Silva (Lula a partir de 1992), é que o mesmo usou o próprio sistema sindical utilizado para ter o controle de algumas classes de trabalhadores e desafiou há trazer melhores condições de trabalho, tanto que não se falava em outros detalhes presentes na época da ditadura, tudo era voltado ao trabalho e condições dignas para exercer o labor, tendo se notícias que até ir ao banheiro fora do horário permitido , era motivo de insubordinação e desligamento, enfim o operário brasileiro era equiparado a uma máquina e sem valorização . O novo Líder nunca saiu do país e nem teve a experiência de exilado político, usando esse fato como artifício para se manter próximo daqueles que eram tidos como” excluídos”, iguais a si e sem o acesso inclusive a uma boa formação educacional.

A transição deste movimento para a política foi natural e necessário, pois, no mesmo ano voltava o país a ter também um novo aspecto democrático com o retorno do pluripartidarismo através da Lei Federal n° 6.767, de 20 de dezembro de 1979. Diante a legalidade do movimento sindical teve Luís Inácio participação em 1980 como um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, atraindo pensadores , filósofos, classe artística, jornalistas e demais simpatizantes a quem o regime militar considerou como “persona non grata” .

Trago para reflexão um outro detalhe importante e que pouco se comenta; a Nova Esquerda veio se posicionar contra abusos ocorridos pela política econômica existente , foi no início também muito conservadora quanto aos costumes , pois, queria mostrar se digna em seu reconhecimento e após isto ter acontecido intentou tom liberal e muitas vezes apoiada pela Igreja Católica através de Cardeais e Arcebispos preocupados com a dignidade humana e a constante violação dos direitos humanos.

Quanto ao título deste texto , faço tal menção em homenagem a clássica peça de Gianfrancesco Guarnieri – Eles Não Usam Black-Tie, que retratou tão bem este momento brasileiro, que se tornou consagrada em filme de Leon Hirszman que por acaso filmou também a greve dos metalúrgicos já que filmavam o filme perto dali, tornando referência ao mundo as imagens no Paço Municipal e no Estádio lotada de trabalhadores em busca de direitos, quando todas as greves eram consideradas ilegais.

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Eduardo Maluhy
Eduardo Maluhyhttps://realnews.com.br/
Advogado em Porto Alegre , Jornalista e Observador Político

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