A corrida eleitoral deste ano para a prefeitura de Canoas trouxe à tona um velho problema que parece reincidir na política brasileira: a manipulação do currículo acadêmico de candidatos que almejam cargos públicos. Airton Souza, candidato do pleito municipal, vê-se imerso em uma nuvem de dúvidas sobre a autenticidade de seu diploma de ensino médio – questão essa que, se não fosse grave o suficiente, envolve uma série de inconsistências sobre sua escolaridade ao longo de anos de sua vida pública.
A notícia-crime movida contra ele é clara e aponta para a necessidade de que o candidato apresente o diploma original que alega ter concluído. No entanto, a Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul parece não ter registro de tal conclusão. A situação ganha contornos ainda mais estranhos quando analisamos as informações fornecidas por Souza em suas candidaturas anteriores. Em 2004 e 2006, por exemplo, ele declarou ensino médio incompleto; em 2008, no entanto, alegou possuir apenas ensino fundamental completo. Nos anos seguintes, voltou a oscilar entre ensino médio completo e ensino fundamental completo, até que, de repente, surge uma informação de que estaria cursando ensino superior em 2022. E, agora, em 2024, figura novamente como detentor de ensino médio completo.
Essa dança de informações desorienta o eleitor e mina a confiança na retidão que a população espera de seus representantes. A Justiça Eleitoral agora enfrenta o desafio de apurar o que é fato e o que é fantasia, em um caso onde o risco de diploma falsificado ameaça não só a integridade do processo eleitoral, mas a própria imagem da política. Pergunta-se, então, se um candidato que supostamente distorce suas credenciais acadêmicas está apto a conduzir os interesses de uma cidade inteira. Não basta alegar alfabetização; o problema é mais profundo, atingindo diretamente o respeito ao Código Eleitoral e à verdade exigida de quem busca liderar.
Paralelos com Goiás: a crise do candidato do PL e o abalo de confiança no eleitorado conservador
O caso de Airton Souza se assemelha, de forma perturbadora, ao episódio recente envolvendo Fred Rodrigues, candidato à prefeitura de Goiânia pelo Partido Liberal (PL). Rodrigues, que está em segundo turno contra Sandro Mabel, viu seu apoio evaporar entre os eleitores após a descoberta de um diploma falso. A notícia abalou profundamente a cúpula do PL, que agora defende a retirada da candidatura de Rodrigues e cogita até uma punição interna, devido ao desgaste provocado pela mentira. O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, que havia planejado um ato público ao lado de Rodrigues, sofre com o peso do episódio, dada a promessa de apoio a um candidato cuja “retidão” foi comprometida.
Essa similaridade entre os casos de Airton Souza e Fred Rodrigues não deve ser vista como mera coincidência, mas como um reflexo preocupante de um padrão que abala a integridade da política brasileira. Ambos os episódios mostram candidatos que, ao tentarem manipular suas credenciais acadêmicas, subestimaram a inteligência do eleitorado e desonraram o compromisso com a verdade. A reação dos apoiadores de Bolsonaro, que viram em Rodrigues um traidor dos valores conservadores, é um exemplo de que, para muitos eleitores, a ética e a transparência são requisitos inegociáveis.
A imagem pública e o peso de uma candidatura que pende para o falso
Nos dois casos, é imperioso perguntar: o que leva candidatos a criarem uma narrativa fantasiosa sobre seu histórico educacional? Seria uma tentativa desesperada de se alinhar a expectativas elitistas, na crença de que a escolaridade garante mais votos? Ou apenas um desrespeito descarado ao processo eleitoral e ao eleitor?
Quando um político apresenta informações supostamente inverídicas sobre sua formação, ele compromete a seriedade de seu partido, dos eleitores e da própria Justiça Eleitoral. E essa não é uma questão isolada; é parte de uma crise sistêmica de credibilidade. Em Canoas, assim como em Goiânia, os eleitores merecem saber a verdade sobre quem está tentando liderá-los. Candidatos que escondem a verdade de maneira tão flagrante arriscam não só a derrota nas urnas, mas também o peso de processos criminais.
A Reação da Justiça e a Necessidade de Transparência
O que se espera agora é uma reação contundente da Justiça Eleitoral. A verdade precisa vir à tona, pois o eleitorado de Canoas – assim como o de Goiânia – merece saber quem são seus candidatos de fato. Caso Airton Souza realmente possua o diploma que diz ter, cabe a ele apresentar o documento original, junto a qualquer outro comprovante que afirme sua veracidade. Uma foto de formatura, um certificado autêntico, qualquer prova cabal que dissipe a nuvem de dúvida pairando sobre sua candidatura.
Por outro lado, se a dúvida persistir, a Justiça Eleitoral tem a obrigação de investigar e, se necessário, impedir que uma possível fraude eleitoral venha a contaminar a administração de Canoas. Não se trata apenas de um diploma; trata-se da confiança depositada por uma cidade inteira em seu futuro prefeito.