O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou, durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU, ter cruzado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva momentos antes de subir à tribuna, em Nova York. De acordo com o republicano, o contato foi rápido, marcado por cumprimentos cordiais, e houve uma sinalização para um encontro mais estruturado na semana seguinte.
Fontes do governo brasileiro informaram ao GLOBO que o episódio ocorreu logo após a fala de abertura do líder brasileiro e que o tom foi amistoso, ainda que sem confirmação oficial de reunião bilateral. Testemunhas relataram que Trump acompanhou a intervenção de Lula e que ambos manifestaram disposição para um diálogo mais amplo. Até agora, porém, não há acerto formal para a agenda mencionada pelo norte-americano.
Nos instantes em que foi citado no plenário, Lula demonstrou surpresa ao ser avisado por assessores — entre eles o conselheiro especial Celso Amorim e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski — de que Trump se referia ao Brasil e a um possível encontro. O Itamaraty, por sua vez, não solicitou reunião bilateral à margem da Assembleia. Integrantes da comitiva brasileira já haviam indicado que, havendo um encontro casual pelos corredores, o presidente brasileiro trataria Trump com a mesma naturalidade adotada em interações anteriores com outros líderes.
A referência ao Brasil não ocupou posição central no discurso de Trump: o presidente mencionou mais de duas dezenas de países antes de abordar Lula ou temas brasileiros, distribuindo comentários sobre aliados, rivais e diferentes frentes geopolíticas. Já a fala do chefe do Executivo brasileiro priorizou recados sobre soberania, criticando sanções unilaterais e intervenções externas, além de registrar preocupações com tentativas de interferência sobre o Poder Judiciário.
Em conversas reservadas de membros do governo brasileiro, a apresentação de Trump foi descrita de modo pouco elogioso. Paralelamente, atores políticos que defendem a imposição de sanções ao Brasil nos EUA — entre eles o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o influenciador Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente João Figueiredo, ambos recentemente denunciados pela PGR — interpretaram o gesto de Trump como parte de uma estratégia negociadora: tensionar a relação para, em seguida, buscar vantagens em uma eventual mesa de conversas. Na leitura desses interlocutores, caberia a Lula sair do processo com ganhos políticos concretos ou justificar a ausência de violação de direitos humanos no país. Até o momento, não há registro de participação de Lula em tratativas com Trump nem de discussão de eventuais exigências de Washington para revisão de sanções.
Ao fim, o saldo imediato é de um aceno público à reaproximação, sem comprometimentos formais. Enquanto Trump cultiva a imagem de negociador assertivo, o governo brasileiro tenta calibrar o espaço para um diálogo que preserve a autonomia diplomática e atenda a interesses nacionais, evitando que a pauta doméstica seja condicionada por pressões externas.
Foto: Michael M. Santiago/Getty Images/AFP



