Após a ocorrência de três ciclones em um intervalo surpreendentemente curto de tempo no Rio Grande do Sul, os especialistas em clima estão investigando a reincidência desses eventos climáticos no estado e fornecendo perspectivas para a previsão do tempo nos próximos meses.
Flavio Varone, coordenador do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, explicou que a ocorrência de ciclones é uma ocorrência comum no Rio Grande do Sul. Geralmente, eles se formam sobre o oceano e não representam riscos significativos para a população. No entanto, ao se aproximarem da costa, podem gerar transtornos mais graves.
“Os ciclones são fenômenos bastante comuns no Estado, especialmente durante o outono e o inverno. Em sua maioria, eles passam longe da costa e não causam grandes problemas no continente. No entanto, em algumas ocasiões, eles se aproximam do litoral gaúcho, e isso pode trazer danos, prejuízos e eventos severos”, afirmou Varone.
Nas últimas semanas, dois ciclones se formaram no litoral gaúcho e o terceiro sobre o continente, causando chuvas intensas, ventos fortes e precipitações de granizo que afetaram várias cidades gaúchas.
O primeiro ciclone resultou em acumulações elevadas de chuva, chegando a 300 milímetros em Maquiné, no Litoral Norte. O segundo foi menos intenso, com acumulados de 120 milímetros. Já o terceiro, além dos acumulados, provocou tempestades localizadas, com rajadas intensas de vento e acumulados de chuva atingindo 230 milímetros durante o período.
Varone e outros meteorologistas também explicaram a recorrência desses eventos em um curto período de tempo, apontando as condições atmosféricas como fator principal.
“A principal influência foi uma região de baixa pressão associada a um fluxo de umidade. Os três ciclones ocorreram devido ao avanço de uma frente fria, com uma região de baixa pressão e umidade”, avaliou Lucas Fagundes, que atua na Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do RS.
“Em muitos casos na história, houve repetição de fenômenos similares com maior frequência em determinado período, devido ao padrão predominante na atmosfera. Foi o que aconteceu nas últimas semanas”, acrescentou Varone.
A localização geográfica do Rio Grande do Sul também desempenha um papel relevante nesse cenário. “Os ciclones são fenômenos muito comuns próximos ao Estado, no extremo sul da América do Sul. O Rio Grande do Sul, devido à sua posição geográfica, está naturalmente associado à passagem desses sistemas meteorológicos”, observou Varone.
El Niño, um possível agravante
Varone e Fagundes ressaltaram que, até o momento, esses três ciclones não possuem ligação com o El Niño. No entanto, eles alertaram que esse fenômeno climático pode começar a influenciar o clima no estado em breve, potencialmente gerando situações adversas.
“O El Niño deve começar a agir no final do inverno e na primavera. Nesse período, os eventos extremos devem ficar mais intensos no Rio Grande do Sul, devido à influência desse fenômeno. Em razão da atuação do El Niño, a tendência é de que tenhamos eventos de chuvas fortes e tempestades no Estado durante a primavera”, ressaltou Fagundes.
De acordo com o último boletim do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul, no fim do trimestre entre julho e setembro, o El Niño deve atingir forte intensidade no Estado, levando ao aumento da precipitação pluvial em todo o território, com volumes de chuva acima da média em todas as regiões.
“Com o El Niño, podemos esperar uma maior ocorrência de ciclones. Até o final do inverno e, principalmente, durante a primavera, podem ocorrer eventos mais severos associados a esse fenômeno. Esses sistemas podem se intensificar um pouco mais, resultando em maior frequência de fenômenos adversos”, alertou Varone.
O meteorologista chamou a atenção para a primavera, período em que o El Niño tem maior influência no Estado. “Esse período já apresenta, por si só, eventos climáticos severos. A ocorrência de um El Niño muito forte pode intensificar esses fenômenos. Portanto, ao longo da próxima primavera, é possível que tenhamos tempestades associadas a ventos fortes, granizo, chuva intensa e altos volumes de precipitação em intervalos de tempo muito curtos, tornando-se mais frequentes”, avaliou.
Quanto às temperaturas, a Sala de Situação do governo gaúcho prevê que o inverno no Estado seguirá com a passagem de frentes frias, mas as temperaturas devem ficar acima da média climatológica.
Possibilidade de novo ciclone em julho
A hipótese de um novo ciclone se formar na última semana de julho ainda não foi confirmada. “Há essa projeção, mas ainda não é algo concreto. Requer monitoramento e precisa de confirmação. É uma previsão muito estendida, que pode mudar ao longo dos próximos dias e talvez nem acontecer”, disse Varone.
“Faremos o monitoramento da situação do Estado e, se necessário, a Sala de Situação e a Defesa Civil emitirão alertas”, complementou Fagundes.



