Na pandemia, escrevi uma poesia chamada “Empatia” que foi musicada pelo compositor e cantor Chico Saratt, meu amigo e conterrâneo, que reside em Nápoles.
Em um trecho, digo: “Minha empatia é um castigo em mim, quando nada resolve.” Refleti sobre o dilema de perceber que muitas vezes ser empático não é suficiente, precisamos agir. Na época, me envolvi em trabalho voluntário como psicólogo e realizei doações sistemáticas.
Foucault menciona que é um sentimento cristão fazer o bem ao próximo, pois assim fazemos a nós mesmos. Que esse seja o benefício da solidariedade prestada. Pois, afinal, temos religiosos que dizem: “Ah, foi Deus que assim quis” ou “É o carma individual ou grupal”.
Aqueles que acreditam em Deus sabem que praticar a caridade é superar o egoísmo e desenvolver o amor pelo próximo universal, aliviando suas dores.
Em um triste evento de grande proporção (diferente do caso de Brumadinho), não entendo o paradigma de culpar alguém pelas tragédias que nosso estado tem sofrido. Ainda assim, podemos refletir sobre a “disputa” entre o jornalista da GloboNews, André Trigueiro, e nosso Governador, Eduardo Leite.
O primeiro, no exercício do jornalismo instigante, estava no direito de lembrar protocolos e prevenções que devem servir de lição na mitigação de futuras tragédias, não apenas no Rio Grande do Sul. O segundo não precisa se sentir ofendido e ser o “culpado”.
No entanto, Trigueiro está correto ao afirmar que uma catástrofe repentina e violenta, sem investimento em prevenção, não pode ser vista como surpresa para Leite ou qualquer governante!
Devemos considerar que na natureza não existem fronteiras. Um ciclone não se forma por responsabilidade de um país ou de um governante.
A Covid, como exemplo recente, veio para nos ensinar como a produção neoliberal contribui para doenças que se tornam pandemias. O planeta está sendo desmatado e poluído de forma globalizada, e isso tem consequências.
Temos um sistema que não promove o bem-estar do homem, abusando da natureza, e precisamos utilizar a tecnologia em prol da harmonia e da preservação (a meteorologia e sua demanda científica, com muitas variáveis intervenientes, está longe de proporcionar previsibilidade segura!).
Houve críticas exageradas à imprensa, que desempenhou um papel fundamental em dar visibilidade ao sofrimento e às demandas decorrentes de tantas perdas. Ver uma jornalista como Cristina Ranzolin sair de sua bancada para enfrentar a cobertura, oferecendo escuta e abraços aos necessitados, também é motivo de respeito e empatia por seu trabalho.
Observar a solidariedade de Lula e de seus governos ao fornecer amparo para reerguer os cidadãos que sobreviveram à tragédia é o que realmente importa, o restante pode ser considerado falso ou politicagem. Devemos reconhecer que Leite também não está de braços cruzados.
Quanto à direita fascista que tenta diminuir esses esforços, é importante lembrar que seu líder terá que contar apenas com a empatia deles na cadeia que o aguarda, pois não demonstrou empatia pela vida, pelos direitos humanos, sociais e individuais.
Em relação à correlação de forças formada para auxiliar as vítimas das cheias em nosso estado, é necessário um maior contingente de psicólogos diante de lutos de toda ordem.
Quando nossa empatia transborda de emoção ao ouvir o depoimento de um pai que viu seu bebê, sua filhinha, sua companheira e sua casa serem levados pelas águas, não faz mal fazer uma prece ou uma oração. No entanto, é fundamental conferir a lista atual de necessidades com a Defesa Civil e doar o que pudermos, pois sempre há um local de coleta próximo a cada um de nós.
O novo normal é o da solidariedade e da prevenção, que deve ser o principal investimento, inclusive ao repensar escolhas políticas e ideológicas que são destrutivas.