Porque é que as pessoas roubam? Ou melhor, por que razão começam algumas pessoas a roubar como forma de vida? Por que razão a vidinha do crime, mais ou menos organizado, passa a ser uma opção? A explicação dada pelo ar do tempo é sempre económica. Diz-se que as pessoas roubam porque têm fome, porque sentem necessidades, porque são pobres, porque não têm oportunidades. Esta explicação sempre me irritou. Nasci pobre, cresci em bairros populares , conheci vários “malandros” mais ou menos profissionais e mais ou menos desdentados, mas nunca conheci ninguém a roubar por necessidade. Como é óbvio, as pessoas que desenvolvem a desculpa economicista do larápio nunca foram pobres e nunca frequentaram bairros do povo, aliás, estou desconfiado que começam a sentir falta de ar logo ali na Calçada . É por isso que não percebem que este raciocínio é um insulto a quem nasceu pobre. Porquê? Porque estabelece uma relação de causa-efeito entre um conceito económico (pobre) e um conceito moral (roubar), ou seja, assume que pobre é sempre um ladrão em potência.
Nunca encontrei, repito, esta associação imediata entre pobreza e ladroagem. Além disso, alguém me explica por que razão muitas betinhas são apanhadas a roubar lojas de roupa e quejandos? Alguém me explica o crime de colarinho branco? Alguém me explica a alta ladroagem também conhecida por corrupção ou isso-é-um-banco-demasiado-grande-para-cair? A resposta, portanto, só pode ser psicológica e imaterial, as causas são morais e não materiais, estão na cabeça e não na carteira. Neste sentido, vale a pena olhar para três portas diferentes. Em primeiro lugar, a vida de gatuno é um desafio à inteligência. Quem é muito inteligente sente sempre um fascínio pela vidinha do crime, porque a recompensa é mesmo essa: mostrar a superioridade de uma cabeça, assumir o estatuto do tipo mais esperto do pedaço, pá, eu roubo porque posso. Em segundo lugar, roubar dá poder, gera uma tribo à volta do líder. Na Póvoa do antigamente, perdi a conta aos líderes históricos dos gangues, pequenos reis que andavam à procura não de dinheiro, mas de respeito. Não queriam trocos, queriam território.
E estamos vivendo isso hoje em dia ninguém rouba pq é podre , rouba pq é o caráter . Vemos hoje que os maiores ladrões são alguns de nossos líderes.
“Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito.
Lucas 16 .10



