Tem coisas que a gente presencia e fica em silêncio… não porque concorda, mas porque dói ver que ainda acontece.
O racismo não vem só nas palavras duras, nem sempre aparece em gritos ou ofensas diretas. Ele se esconde nos olhares, nos gestos, na desconfiança sem motivo. Se manifesta quando alguém é tratado como suspeito só por existir.
É aquele momento em que uma pessoa negra é observada demais, seguida dentro de uma loja, questionada com desconfiança, enquanto outros passam tranquilos, fazendo as mesmas coisas — e ninguém diz nada. É o constrangimento disfarçado de “procedimento normal”. É o julgamento silencioso, aquele que a gente sente, mas que muitos fingem não ver.
E o mais triste é que ainda há quem ache que isso é exagero, que “essas coisas não acontecem mais”. Mas quem já sentiu ou presenciou sabe: acontece sim, todos os dias, nas esquinas, nos mercados, nos sorrisos forçados e nas atitudes “educadas demais”. Fico pensando em como o racismo se repete, disfarçado de mal-entendido.
Como a cor da pele ainda pesa mais do que o caráter. Como a honestidade precisa ser provada quando vem de certas pessoas. E como a sociedade se acostumou a achar isso normal.
Lembro daquele clipe do Michael Jackson, They Don’t Care About Us, gravado aqui no Brasil.Ele falava sobre o que ainda vivemos hoje: a dor de ser julgado pelo que se é, e não pelo que se faz. A música gritava o que muita gente ainda sussurra — que o preconceito não morreu, só se tornou mais educado.
É difícil assistir a isso e seguir em frente como se nada tivesse acontecido.Porque cada cena dessas é um espelho do país que somos.
Um país que gosta de se dizer “misturado”, “acolhedor”, “sem racismo”… mas que mostra o contrário quando um simples chiclete vira motivo para suspeita, vergonha e humilhação.
Um dia, espero que as pessoas entendam que respeito não é favor.Que empatia não é moda.E que ser antirracista é sobre ter coragem — coragem de ver, de admitir e de mudar.



