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Quando a prioridade é a escadaria e não a sala de aula

Enquanto os professores da rede municipal de Novo Hamburgo ameaçam parar as atividades por um reajuste de 5,2% – justo e correspondente à inflação acumulada entre março de 2024 e março de 2025 –, o prefeito Gustavo Finck, aparece em sua rede social para deslegitimar a greve. Diz que é “politicagem”. Mas quem está, de fato, fazendo política?

É política lutar por dignidade salarial? É politicagem exigir o mínimo para continuar lecionando com dignidade? Ou politicagem é prometer valorização do servidor público em campanha, ganhar voto com isso, e depois empurrar a culpa pra “gestão anterior” como se não soubesse da real situação financeira do município?

Enquanto isso, a atual gestão abre um edital de R$ 160 mil para reformar uma escadaria numa praça. Um gasto pequeno? Sim. Mas, num momento como esse, irrelevante não é o valor – é a prioridade.

Quem define que escadaria vem antes de sala de aula? Quem diz que cimento é mais urgente que conhecimento?

E não para por aí. O edital levanta dúvidas sérias. Existem supostos vícios legais que precisam ser questionados. Um deles: a forma de execução é por “empreitada por preço unitário”, mas o julgamento é pelo “menor preço global” – combinação incompatível segundo a própria Lei 14.133/2021. Outro: exigências técnicas exageradas que, para um contrato desse porte, soam como barreiras escondidas para restringir a competição. E por que exigir uma garantia contratual de 5% sem apresentar justificativa técnica? Onde está a transparência?

O edital parece técnico, mas levanta suspeitas. Será que está realmente isento? Será que favorece alguém? Será que tem nome e sobrenome? A população pode confiar cegamente em processos que trazem brechas jurídicas e escolhas mal justificadas?

Enquanto isso, os professores são tratados como “baderneiros”. Quando se levantam para reivindicar o que é deles por direito, são acusados de fazer “jogo político”. Mas e quando se gasta dinheiro público com escadaria enquanto os salários seguem desvalorizados? Isso não é política?

Qual mensagem se passa à sociedade quando se valoriza obra pública e se desvaloriza o servidor público? Quando se investe em cimento e se ignora quem constrói o futuro com palavras, livros e vocação?

Sem professor, não há médico, engenheiro, prefeito ou servidor.

Sem professor valorizado, não há educação de qualidade.

E sem educação, não há futuro – há retrocesso.

O povo precisa parar de aceitar esse discurso cínico de “culpa da gestão passada” como desculpa para descaso com a educação. Os professores não são o problema – são a linha de frente da solução.

E esse edital, por menor que pareça, é um sintoma.

Se essa escadaria é prioridade, alguma coisa está muito errada.

Se quiserem, podemos encontrar muitos outros gastos assim. Porque eles existem. E somam. E matam a educação aos poucos.

A história cobra. E nós estamos do lado certo dela.

Do lado dos que ensinam.

Do lado dos que lutam.

Do lado dos professores.

PARA LER O EDITAL, CLIQUE AQUI

 

O espaço nesta coluna de opinião é democrático, caso o prefeito queira se manifestar, a nota será anexada. 

 

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Wagner Andrade
Wagner Andradehttps://realnews.com.br/
CEO | Jornalista | Comunicador | Narrador | Te ajudo a fortalecer a marca da sua empresa através da comunicação

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