A Prefeitura de Novo Hamburgo anunciou com um ar de “missão cumprida” que nenhuma escola municipal estaria desguarnecida no retorno às aulas. Na peça de propaganda — desculpe, comunicado oficial — somos brindados com imagens mentais de guardas em pontos estratégicos, videomonitoramento em tempo real e um aparato digno de filme de ação. Se fosse verdade, Spielberg já teria comprado os direitos.
Mas vamos ao palco real: uma ou outra escola com um guarda municipal solitário — quando tem. Se isso é “cobertura total”, então estamos reinventando o conceito de segurança. É como chamar um guarda-chuva de “fortaleza contra furacões”. O efeito é o mesmo: mais psicológico que funcional.
A ironia se acentua quando mudamos o endereço: na Câmara Municipal, onde os políticos trabalham, segurança é abundante. Guarda Municipal presente, segurança privada contratada… um cinturão protetor digno de chefe de Estado. Já para as crianças, a estratégia parece outra: uma presença tímida, rondas esporádicas e um discurso cheio de palavras bonitas para compensar o vazio prático.
Será que a prioridade da cidade é proteger quem toma decisões ou quem vai viver com as consequências delas? Pergunta retórica.
E a cereja no bolo: quando a GM aparece, muitas vezes não é para proteger uma escola, mas para ações que lembram mais reality show policial — motos acelerando, gritos, armas em punho — do que o papel institucional de proteger patrimônio público. E se esquecem de um detalhe óbvio: escola é patrimônio público. Logo, a ausência constante é tão estranha quanto conveniente.
No papel, temos “Programa Escola Mais Segura”. Na vida real, parece mais “Programa de Segurança Mais Publicitária”. É segurança para fotografia, para manchete, para discurso em sessão solene. Segurança para dormir tranquilo em gabinete.
Enquanto isso, pais e alunos seguem expostos à diferença brutal entre o que é dito e o que é feito. A única certeza é que, em Novo Hamburgo, a blindagem mais eficaz não é para as escolas — é para a reputação de quem governa.
A pergunta que não quer calar: será que faltou gasolina para a Guarda Municipal em Novo Hamburgo? #tosabendo
O espaço está disponível caso a prefeitura de Novo Hamburgo queira explicar a situação e dar sua versão dos fatos.
Foto: Gabriel Metz / PMNH