Isso remete ao pulsional, quando ouvíamos a vinheta de vitórias de Airton Senna. E com o nosso hino nacional e as cores de nossa bandeira, está pronto um “pacote 7 de setembro” onde todos são “patriotas”, como se tivesse único sentido!
Esta data engloba as pulsões escópicas, o olhar, e invocantes; a voz, que no somatório das identificações conta ponto ao sujeito no amor patriótico.
No entanto, raciocinando com os registros real e imaginário, buscamos também a simbolização que passa pela ressignificação do que repetimos meio robotizados.
Então, senti a necessidade de ver as origens disso tudo, do ponto de vista histórico até o momento atual e do que é digno de comemoração.
O custo literal de nossa “independência” foi de 2 milhões de liras de indenização a Portugal, tendo ainda o narcisismo do colonizador salvo, com D. João VI recebendo o título honorário de imperador do Brasil.
E o reconhecimento por parte da Inglaterra, que foi mediadora, visto seus interesses econômicos, somente ocorreu em agosto de 1925, recebendo de Portugal justamente a quantia que foi saqueada de nossos cofres.
Na era Vargas, nosso patriotismo e nacionalismo foram enaltecidos com os direitos trabalhistas, avanços estruturais e industriais inegáveis. Porém, não podemos pensar em independência, dado o flerte com o nazismo que deportou Olga Benário, mulher de Prestes, para ser morta por Hitler, nem na falta de liberdade aos sindicatos e ao movimento negro paulista, como exemplos.
Saltando para o “milagre brasileiro” da ditadura, que objetivava nos deixar “livres do Comunismo”, o ufanismo custou um endividamento externo que saltou de 3,1 a 12,5 bilhões de dólares.
Lula, que pagou a dívida de nosso “milagre econômico”, agora volta já quitando em cem dias 526 milhões de reais, 10% da herança que Guedes deixou.
A “independência”, em nenhum nível, é efetiva se não partir do econômico, repercutindo subjetivamente na imagem nos acordos e soberania.
Neste “sete de setembro”, marcado pela tragédia que vivemos no vale do Caí e Taquari, a natureza não é independente de nossos atos. A dor e as perdas de toda ordem reafirmam o que já não tinha sentido de comemoração.
O imaginário que se instalou na cultura da “nossa independência” precisa de um marco simbólico calcado em coisas realmente libertárias, tais como: um Brasil que está se reerguendo democraticamente, aumentando o salário mínimo, taxando super-ricos, PIB em alta, num contexto em que a nação avança na esperança de dias melhores, dentre outras boas novas. Podemos comemorar o que Toffoli chancelou: o reconhecimento da farsa, do maior engodo jurídico e golpista, que criminalizou e aprisionou Lula.
Não é patriótico um oito de janeiro fascista, tampouco um “sete de setembro” que não for liberto de mentiras, de preconceitos e exclusões que restringem direitos individuais, sociais e humanos.
Proposta: tirar o “ismo” e termos o dia da “Patricidade”, comemorando o verde de matas abundantes, o ouro da riqueza melhor distribuída, o azul de céu limpo, o branco de paz democrática e qualidade de vida, “pintando o sete”, com arte, cultura e educação.
Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS), debatedor do “Café com análise”, no YouTube e membro do Psionline.