De 1988 a 2001, sem aval dos colegas, nenhum deputado podia ser investigado. Resultado: mais de 200 pedidos do STF foram para o ralo. Só um processado. Quando o Congresso julga a si mesmo, o crime sai ileso — e rindo.
Agora querem ressuscitar o truque. Em setembro de 2025, a Câmara aprovou a chamada PEC da Blindagem em dois turnos e mandou a vergonha ao Senado. O plano original ainda tentava impor voto secreto. O segredo não passou; a blindagem, sim. O recado é explícito: “nós decidimos se podemos ser investigados”.
Chamam de “segurança jurídica”. Mentira. É salvo-conduto para quem tem culpa atrasada. A PEC exige autorização da Casa para o STF abrir ação penal contra parlamentar — o cadeado volta para a porta da Justiça. Pior: estende o escudo a deputados estaduais e distritais. É máfia institucionalizada com verniz constitucional.
Vamos falar claro: a PEC não protege mandatos — protege quadrilhas. Quem votou “sim” se declarou contra a transparência e a favor da impunidade seletiva. Transformaram o Parlamento em bunker. Enquanto você parcela R$ 58, eles parcelam a lei até caber no bolso.
O Senado tem a chance de enterrar essa afronta. Senador que respeita o eleitor não carimba escapismo corporativo. Quer “segurança jurídica”? Começa cumprindo a lei, não amputando a investigação.
Blindagem é coisa de quem espera o tiro. Quem se diz honesto e quer coleguinhas decidindo se pode ou não ser investigado não merece o cargo — merece ser lembrado como coveiro da democracia.
Guarde os nomes. Os votos têm CPF. Publique a lista do seu estado. Marque, cobre, pressione. Nas próximas eleições, trate o “sim” à PEC da Blindagem como o que é: confissão pública.
Cúmplices não merecem mandato. E não há colete que proteja da memória de um povo que acordou.
Foto: Lula Marques/Agência Brasil