A microbiologista Natalia Pasternak, que teve uma importante atuação em combater o negacionismo de Bolsonaro no enfrentamento da Covid, agora vem com uma postura extremada, mega cientificista.
Na parceria com o Jornalista Carlos Orsi, lançou o livro “Que bobagem”, promovendo uma nova “caça às bruxas”, sobremaneira no SUS, denegando as Práticas Integrativas e complementares em saúde, como acupuntura e psicanálise.
Do lugar de fala, enquanto psicanalista, trago as seguintes ponderações:
Não é de hoje que a psicanálise é atacada, desqualificada. No seu tempo, Freud foi perseguido pela psiquiatria do século 19, eminentemente biologicista.
Trazer as formações do inconsciente, construir uma “metapsicologia”, vista por ele como terapêutica, semiológica e curativa, deu o que falar. Além de escandalizar com a revelação que existia sexualidade infantil e despatologizar a homossexualidade.
Na visão Freudiana, o sujeito é movido por questões inconscientes e a neurose passa por um conflito sexual. Ouvindo as histéricas que somatizavam conflitos no corpo, a psicanálise ergueu seus pilares epistemológicos.
Jacques Lacan trouxe a teoria Freudiana rediviva, postulando que o inconsciente se “estrutura na forma de uma linguagem”, rompendo com a lógica cartesiana com a máxima: “somos onde não pensamos”.
O lugar de “pseudociência”, dado pelo paradigma Popperiano, falseacionista, é um caminho indutivista que reduz o valor de práticas como a psicanálise, que têm outros parâmetros de comprovação.
Para a pesquisa psicanalítica, sua validade clínica é dada no “só depois”, num processo de análise que não é da ciência dura, psicométrica.
Segundo o sociólogo Max Weber, a ciência natural não poderia “ser uma cópia fiel da realidade que é infinita” e que seu paradigma não se aplicaria às ciências humanas (como a psicanálise). Não precisamos falsear a dimensão inconsciente, pois ela é observável no discurso e no processo analítico, no qual o sujeito de desejo será empoderado.
Na dimensão ontológica, o sujeito desejante é o do inconsciente, no qual se encontra a lógica na narrativa.
A nossa epistemologia é dada pela validade destes e outros conceitos, na prática clínica, no compartilhamento com nossos pares e no ético poderoso tripé de sustentação: análise pessoal, estudo e supervisão.
O Ministério da saúde de Lula trouxe uma posição bem firme: as 28 práticas integrativas e complementares adotadas no SUS são apoiadas pela OMS (bom lembrar, o seu reconhecimento da terapia floral como prática medicamentosa desde os anos 80).
A contramão dessa perspectiva, reativada pela “Bobagem-Pasternak-Orsi”, é aposta de investimento mais favorável à indústria farmacêutica, cuja importância é inegável, mas não absoluta.
Na seara que a psicanálise lacaniana atua, literalmente, a lógica formal, do tempo e da linguagem devem ser cuidadas, não disjuntivas.
Uma prática complementar, como assim é nomeada, sem rótulo de “alternativa”, não é “ou”, mas sim “e”, conjuntiva.
Nas políticas públicas de saúde mental integral, o desafio é investir em pesquisas sobre as práticas integrativas e complementares, como variáveis positivamente intervenientes, já constatadas no método observacional.