O período de recesso da pandemia mudou várias coisas nas rotinas de todos, tivemos um olhar insade, aprendemos e conhecemos melhor o que somos e quais nossas limitações em relação a convivência em todas as áreas, família, trabalho, amigos e escolas. A experiência durou aproximadamente dois anos, sendo o primeiro ano de maiores restrições e limitações – algumas até severas e autoritárias, em praticamente todas as rotinas familiares e profissionais houve mudanças. Aprendemos a intensificar o uso da tecnologia para praticamente tudo, surgiu novas oportunidades e modelos de trabalho, convivência e ensino, o celular passou a ser ainda mais, nosso maior aliado, contudo passou também em alguns momentos a ser nosso maior adversário quando se trata do uso por crianças. Uma das maiores mudanças das rotinas nas famílias das grandes cidades em relação às limitações que a COVID19 trouxe, foi no ensino dos pequenos. As rotinas de ter as crianças em casa praticamente nos três turnos de segunda à segunda, nos fez valorizar ainda mais a escola, professores, cuidadores de creches e pessoas que cuidam de nossos pupilos enquanto trabalhamos ou buscamos de forma honesta nosso arroz e feijão de cada dia. Realmente, teve muitos pais que conheceram seus filhos nesse período! Fato é, que muitos pais e responsáveis se socorrem na tecnologia de celulares e tablets para cuidar ou distrair os filhos – erro colossal – uma atitude arriscada já apontada por diversos educadores, médicos e pedagogos. Se você não aguenta uma crítica, melhor parar de ler por aqui. Uma pesquisa médica concluiu que:
“Constante bombardeio perceptivo; desmoronamento das trocas interpessoais (especialmente intrafamiliares); perturbação tanto quantitativa quanto qualitativa do sono; amplificação das condutas sedentárias; e insuficiência de estimulação intelectual crônica…”. Eis um resumo do que as telas podem fazer com as crianças nas palavras do neurocientista francês Michel Desmurget, autor do recém-lançado, A Fábrica de Cretinos Digitais”
O autor da obra a qual recomendo, A Fábrica de Cretinos Digitais, do médico neurologista e pesquisador francês, Michel Desmurget, é categórico ao afirmar que existe muito mais malefícios do que benefícios em relação ao uso indiscriminado dos aparelhos nas rotinas dos pequenos. Sabemos que trata-se de uma grande ferramenta para pesquisa, afinal o mundo está nas mãos de cada um, contudo quantos pais e responsáveis realmente hoje em dia, tem tempo e condições de acompanhar todas as rotinas dos filhos, além disso, o fato é que crianças às vezes nem estão alfabetizada já possuem uma intimidade com a tecnologia android e smart (já parou para pensar nisso?) deixando alguns pais como verdadeiros dinossauros tecnológicos, já nascem com os dedinhos prontos para Tela Touch Screen (sensível ao toque). Tivemos muitos casos onde avaliações a distância das crianças foram praticamente paliativas, talvez inexistentes, seja por falta de recurso ou por questões de acesso a internet, ou ainda, por que não foram as crianças que fizeram de fato as avaliações. Com retorno as aulas presenciais surgiu uma nova questão, para alguns ainda mais complexa, as crianças estão com lápis, borrachas, cadernos e celulares nas salas de aula, antes de qualquer argumento referente ao excelente instrumento de pesquisa, devemos pensar nas rotinas em sala de aula, a dificuldade que professores e profissionais enfrentam sobre o controle dos acessos a conteúdos não indicados aos alunos. Há ainda, que se observar o fato das escolas públicas de realidades tão distintas e desiguais, onde alguns possam ter modernos e caros aparelhos e outros não. Pensamos também nas dificuldades dos professores em disputar a atenção do estudante, com um mundo de acesso a milhares de conteúdos. Na verdade os maiores interessados em debater a questão são os menos ouvidos ou chamados para criar alternativas, os professores e educadores, profissionais que convivem na ponta, a infantaria que atendem as vezes mais de trinta crianças ao mesmo tempo. Como disputar a atenção do aluno com o TikTok e vídeos do instagram? Missão impossível para os pais e responsáveis, imagina para professores cada vez mais limitados de autoridades dentro da sala de aula.
Lembramos que lá em 2008, venho uma alternativa em forma de Lei estadual – sim por que o Brasil é o país da Lei pra tudo – o governo do estado naquele ano através da Lei 12.884 de 03 de janeiro de 2008, regulou sobre a utilização de aparelhos de telefonia celular nos estabelecimentos de ensino do Estado do Rio Grande do Sul, proibindo que aparelhos fossem usados, a lei determinava que os aparelhos fossem mantido desligados durante as aulas – e ainda está em vigor, não parece né! Além da Lei, há necessidade de bom senso dos pais e responsáveis, entender que a Escola é um ambiente de ensino e proteção, havendo necessidade de contato com os filhos poderiam entrar em contato diretamente com a direção da escola – doce sonho, esperar bom senso de alguns pais e responsáveis – a verdade é que, em alguns casos, o aparelho celular ou similares em poder de uma criança por exemplo, retiram a autoridade de um professor em sala de aula, já tão fragilizada. Em nada ajuda, quando a gestão do município não colabora com os professores e corpo diretivo, sem dar o devido suporte, orientação, apoio e respaldo para organização interna da escola, ou afastando a escola da comunidade, retirando o direito de escolha da comunidade, por exemplo. A responsabilidade maior está na conduta dos responsáveis pela criança isso é fato, mas o compromisso de fazer do ensino um ambiente de aprendizado é de todos, precisamos unir forças para alcançar os melhores resultados, usar a tecnologia com responsabilidade e de forma universal, para todos os alunos principalmente os mais carentes, isso porque queremos uma geração de adultos bem formados com conhecimento e raciocínio, não apenas saber perguntar para o google e aguardar a resposta pronta. Não podemos nesse momento de maiores recursos e ferramentas ter uma geração de dançarinos de tiktok. A situação é ainda mais complexa quando se trata de adolescentes, a questão da privacidade e imagem tanto de alunos e professores é delicada (O direito de imagem é protegido pelo artigo 5o, inciso X da Constituição Federal), merece estudo e debate, imaginem o uso indevido da imagem de um professor ou professora, que passa boa parte da aula de costas para a turma, tendo fotos e vídeos depreciativos expostos em redes sociais – isso já ocorreu em inúmeros grupos de aplicativos de alunos, ou facebook, por exemplo, mesmo que por brincadeira. Os adolescentes têm acesso a mais conteúdos prejudiciais e forte tendência a expor pessoas, naturalmente por sua imaturidade (…).
Diferente das imagens gráficas em alta qualidade de panfletos e jornais distribuídos pelas cidades, gasto para fazer a promoção da gestão pública, que apresenta uma realidade muito distante da maioria das pessoas, principalmente em comunidades carentes, que vivem uma realidade que não é aquela de “comercial de margarina”, temos que debater o tema com serenidade e parceria. O mais importante é que possamos dar atenção a esse tema, ajudar a construir alternativas viáveis e reais, que faça realmente a educação de qualidade uma prioridade. Transformar a educação com uso de mecanismos modernos é essencial, mas não podemos deixar para o mundo apenas digitadores de pesquisas rápidas, afinal a escola pública merece mais atenção e valorização, são nossos filhos que estão lá, precisamos assumir a responsabilidade e autoridade sobre isso, não por WiFi , mas presencialmente.