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O Tempo e o Amor – Por André Luiz Santiago Eleutério

O tempo é um bem que ninguém pode acumular, controlar ou recuperar. Ele escapa por entre os dedos como areia fina, indiferente a vontades ou arrependimentos. E, no entanto, ele é o presente mais valioso que podemos oferecer a alguém. Em um mundo que corre sem descanso, onde cada segundo parece contado e cronometrado para atender a demandas e urgências, dedicar tempo a outra pessoa se tornou um gesto raro, quase revolucionário.

Vivemos cercados por distrações. As telas piscam, notificações exigem resposta, compromissos se acumulam. Estamos sempre com pressa, sempre correndo, sempre prometendo que depois haverá tempo. Mas quando esse “depois” finalmente chega, muitas vezes nos damos conta de que as oportunidades já se perderam. As conversas que poderiam ter sido longas se tornaram breves. Os encontros que poderiam ter sido leves foram atropelados por obrigações. As relações que poderiam ter sido fortes se tornaram frágeis pela ausência.

O tempo não se mede apenas pelo relógio, mas pela presença. Estar com alguém não é apenas dividir um espaço físico, mas realmente entregar-se àquele momento, sem distrações, sem metades. Quantas vezes estamos ali, mas com a mente em outro lugar? O celular na mão, os pensamentos vagando, os olhos sem foco. Não percebemos, mas cada instante que escolhemos não viver por inteiro é um instante que jamais poderá ser resgatado.

O amor verdadeiro não se manifesta apenas em palavras ou promessas. Ele se revela no tempo oferecido sem pressa, na escuta sem interrupções, no olhar que realmente vê o outro. O tempo compartilhado constrói laços que não podem ser quebrados por distância ou circunstâncias. Ele cria memórias que sobrevivem ao esquecimento, fortalece relações que, de outra forma, poderiam se dissolver no ruído da vida cotidiana.

Mas o mundo moderno parece nos empurrar para um estado constante de urgência. Tudo é para agora, tudo exige atenção imediata. Sentimos que estamos sempre devendo algo: trabalho, respostas, produtividade. E nessa corrida, acabamos devendo também a nós mesmos. Deixamos de estar com quem amamos, de desfrutar momentos simples, de viver com presença. Quando percebemos, já se passaram anos. Já perdemos oportunidades. Já nos afastamos de pessoas que talvez ainda estejam ali, mas que já não sentimos tão perto.

E então, às vezes, é tarde. Às vezes, percebemos o valor do tempo apenas quando não podemos mais compartilhá-lo com alguém. O abraço que poderia ter sido dado, a conversa que poderia ter sido longa, a visita que sempre foi adiada. Guardamos nossas demonstrações de afeto para um futuro incerto e, quando nos damos conta, o futuro virou passado sem que tivéssemos vivido o presente.

Por isso, talvez seja hora de parar. Respirar fundo. Olhar ao redor e perguntar: para onde está indo o meu tempo? Com quem estou escolhendo gastá-lo? Estou realmente presente quando estou com aqueles que amo? Porque o tempo é um reflexo do que valorizamos. Ele é a medida do que consideramos importante. Não há declaração de amor mais sincera do que a decisão de parar tudo e simplesmente estar com alguém.

Não é preciso muito para transformar um instante em algo eterno. Um café sem pressa, uma caminhada lado a lado, uma conversa que não olha para o relógio. Pequenos momentos se tornam inesquecíveis quando vividos com entrega. Afinal, no fim das contas, o que levamos da vida senão as memórias que construímos ao lado de quem importa?

O tempo não volta. Mas enquanto ele ainda é presente, podemos decidir como usá-lo. Podemos resgatar conexões, reconstruir laços, dizer aquilo que sempre deixamos para depois. Porque, no fundo, amar é escolher estar. Amar é escolher dar tempo. E não há presente maior do que esse.

Este texto foi escrito pelo jornalista André Luiz Santiago Eleutério.

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