Já sabemos que o termo “direita” é originário da posição onde os parlamentares se sentavam na Assembleia na Revolução Francesa, assim como a mesma origem se refere a “esquerda”. Na França revolucionária surgiram vários conceitos e ideais que influenciaram nosso sistema atual, fruto da mentes de pensadores, filósofos, militares, líderes e revolucionários, a rica história da França fixou personagens imortais, de ambos os lados, por suas contribuições e relevância na história do mundo ocidental.
A Revolução Francesa, ocorrida entre 1789 e 1799, foi motivada pela situação de crise que o governo monarca francês vivia na época e influenciada principalmente por ideias iluministas. Em um momento que todos questionavam o status quo do período (para alguns autores) estimulados pela insatisfação da burguesia, que perdia espaço e riquezas, com o sistema cada vez mais isolado da realidade do povo e com aqueles que produziam riquezas. Há ainda autores que sustentam que a revolta significativa e fundamental para a histórica revolução, trata-se da revolta das mulheres descontentes com a recessão econômica que gerou escassez de alimentos e preços elevados (do pão por exemplo), onde elas saíram às ruas junto aos revolucionários, contudo de uma forma mais feroz e cirúrgica – versão essa que considero muito interessante.
“O ato ocorreu no dia 5 de outubro de 1789, quando, encabeçadas pelas vendedoras de peixe de Paris, cerca de 7 mil mulheres, armadas de facões de cozinha, lanças rústicas (piques), machados e dois canhões, marcharam a Versalhes, sede da Corte Real e da Assembleia Nacional, para protestar contra a escassez e o preço do pão, arrastando atrás de si soldados da Guarda Nacional e outros homens….”
O texto acima se refere aos registros do historiador francês Jules Michelet (1798-1874) – Recomendo a leitura – que descreveu a participação das mulheres revoltadas, o detalhe referindo o preço do pão não poderia ser mais significativo, assim como o fato das mulheres que marcharam como infantaria a frente da turba do povo, quem ousaria enfrentar mulheres revoltadas em busca da garantia do pão de sua família? Sem dúvida uma grande manifestação, que demonstra como as mulheres sempre tiveram participação nos grandes momentos da história, mesmo que em alguns registros isso fique sonegado.
O registro de Michelet segue, especificando que homens tomaram a bastilha enquanto as mulheres invadindo o paço real e tomam o Rei para entregá-lo em praça pública (…), guilhotinas, revoltas, mortes, fome, Queda da Bastilha, jacobinos, girondinos, decapitações e Napoleão, foi a sequência que marcaram a história do período de Jean-Jacques Rousseau (Filósofo).
Em nosso tempo, após o segundo turno, estamos assistindo uma manifestação da recém despertada “direita brasileira” pelo fenômeno Bolsonaro. Por mais que a imprensa tradicional e alguns veículos online insistam em ignorar os protestos e manifestações pacíficas que vem ocorrendo, não há como negar a grande mobilização espontânea que assistimos no mundo real. A experiência de polaridade ideológica que o país presencia – antes tarde do que nunca – não se trata de um indivíduo em específico (ninguém está em protestos por amor a Bolsonaro), mas por uma ideia de política e gestão que para esse público é o melhor caminho (…), assim como, devido a abusos do judiciário, a principal pauta é a transparência e controle das ações judiciais contra cidadãos comuns que expressam sua opinião.
A pauta sobre a liberdade de opinião é justa e merece atenção, uma vez que os abusos podem e irão ocorrer por ambos os lados se não freados pelo próprio povo. As ações desencadeadas pelas eleições de 2022, em relação ao que representa Lula e Bolsonaro, ainda estão se adaptando ao contraditório. Verificamos os veículos de imprensa, por exemplo, aqueles de forte tendência e parcialidade instigam o conflito através da máscara da imparcialidade, contudo a população já entendeu por exemplo que Lula – recém eleito, é e sempre foi o candidato das mídias tradicionais. A consequência dessa parcialidade é a perda de credibilidade dos veículos e de alguns jornalistas. Por outro lado, as mídias que ainda mantém certa imparcialidade e focam no fato, SEM EMITIR OPINIÃO PESSOAL EM MANCHETES OU CAPAS, ganham adeptos e admiradores, mesmo quando os jornalistas possuem posições políticas definidas, ainda assim conseguem cumprir o bom jornalismo.
Termos adotados como Neonazistas, antidemocráticos, fanáticos, loucos, “bolsonaristas” e por aí vai, não possuem valores isentos ou harmonia com o dever de informar e investigar. É visível a tendência apaixonada quando um veículo de comunicação opta informar dessa maneira o que acontece. Como dito acima, estamos nos adaptando a uma realidade antes não vivenciada, nem mesmo pela imprensa, vez que os veículos de maior relevância intelectual atualmente estão na internet, como a RealNews, que vem se tornando referência na região metropolitana como portal de notícias que preserva o bom e imparcial jornalismo.
Termos como antidemocráticos ou criminosos, além de ofensivos é absurdo, a adoção de tais termos só cabem aqueles militantes políticos mais fervorosos (que existem tanto na direita quanto na esquerda), apontar as manifestações como antidemocráticas é ignorância ou má fé, as manifestações podem não ter êxito em suas reivindicações – e acredito que não terão – mas o direito de se manifestar é pétreo e indissolúvel, direito que não pode ser perdido por uma disputa atual, e por raiva do lado contrario. O risco de classificar manifestações pacíficas e ordeiras como antidemocráticas por paixão ideológica é um retrocesso, além de ignorar as garantias constitucionais.
Por isso, entendo (opinião), as manifestações como legítimas, sem observar nenhuma razão para proibir, ignorá-los ou desqualificá-los, independente dos diversos conteúdos que os motivam, por um simples fato de que hoje são os verdes amarelos nas ruas, amanhã podem e serão outros.
Assim, desse lado do Atlântico, alguns distorcem os esforços das mulheres e homens que mudaram a realidade da França e do mundo, inclusive a nossa aqui no Brasil (…), para atender interesses e ideologias pessoais. As recentes manifestações que por acordo velado a imprensa brasileira insiste em ignorar, teriam o mesmo objetivo das mulheres e homens franceses, que lutaram contra abusos e o status quo daquele período?
Aguardamos ver as consequências dos protestos que inegavelmente crescem a cada dia, mesmo com a ignorância vexatória dos veículos tradicionais da imprensa, que infelizmente escolheram sentar-se em um dos lados dessa gigante assembleia criada no Brasil.
A conversa de hoje é uma provocação do meu amigo empreendedor Marcelo Rickrot. Muita luz a todos.