O lixo e reciclagens

Diante das catástrofes ambientais e da poluição nos mares, que comprometem a vida, uma palavra de ordem ambientalista deve ser bradada como grito unificador de todos, todas e todes que utilizam os espaços públicos e privados: uni-vos na reciclagem do lixo!

Partindo de uma perspectiva que não se alinha à lógica neoliberal, acredito que a maior responsabilidade pelo cuidado com o lixo — em respeito também aos recicladores, que tiram seu sustento dessa atividade — deve ser dos órgãos públicos.

Vale lembrar que, no último dia 5 de novembro, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre aprovou o novo Código Municipal de Limpeza Urbana, definindo que organizadores de eventos passam a ser responsáveis pelo lixo gerado.

Esse contexto nos leva à reflexão sobre a recente polêmica envolvendo o lixo deixado na Redenção, após a Parada Livre de Porto Alegre, realizada no último domingo.

É verdade que as lixeiras disponíveis no local são pequenas e insuficientes. Ainda assim, é possível promover ações de conscientização e cuidado com o espaço público, como já vimos em outras ocasiões. A Parada de Luta LGBTI+, que ocorre em junho, tem demonstrado esse compromisso. O mesmo se aplica a nós, da Feira Baile da Diversidade, na Praça Brigadeiro Sampaio. Em Canoas, segundo o organizador Fábulo Rosa, também não houve problemas semelhantes.

A prefeitura de Porto Alegre investiu R$ 60 mil na Parada Livre, além de outros R$ 50 mil vindos do Estado. Nesse contexto, é legítimo questionar: onde esteve a campanha de conscientização ambiental? Parte dessa verba poderia — e deveria — ter sido direcionada ao apoio de recicladores, promovendo inclusão e sustentabilidade. Isso evitaria a atual “guerra de culpabilizações” que enfraquece e divide o movimento.

Quero deixar claro que não vejo problema em termos duas paradas: uma no mês do Orgulho (junho) e outra em novembro, em alusão aos Direitos Humanos. Nos anos 90, tive a honra de contribuir na divulgação da Parada Livre, organizada pela ONG Nuances, atuando como diretor e produtor na Rádio e TV Pampa. Registro aqui meu carinho e respeito eterno por Célio Golin.

Também concordo com um ponto essencial defendido pela Parada Livre: ter acesso a verbas públicas é um direito dos movimentos sociais e dos cidadãos que pagam impostos. Não cabe censura sobre os temas abordados nos eventos. Vivemos numa democracia, onde os atravessamentos ideológicos são inevitáveis, numa sociedade de classes.

Por isso mesmo, o diálogo com nossos representantes e gestores é fundamental, especialmente com figuras como Dani Moretzsohn e Maria Odete Bento, que vêm atuando na linha de frente, junto ao vereador Giovani Culau, na criação do Conselho Municipal LGBT+. Essa é uma construção coletiva valiosa, que não pode ser fragilizada por ruídos e desuniões.

Deixo aqui meu agradecimento pelo acolhimento de Roberto Seintenfuz, da Parada de Luta, na parceria com a Feira Baile e o Fórum de Empreendedorismo, promovendo o turismo gay-friendly, com apoio da OP, Festuris e MUT.

Parcerias sem sectarismos são o caminho para o avanço do nosso movimento. Precisamos, com urgência, reciclar os egos, criando uniões viáveis. O que não for positivo, que vá para o lixo — mas sem poluir ou sujar o amor pelas nossas causas maiores e coloridas.

Boas festas — com consciências limpas!

(Esta coluna volta em fevereiro)

Leia mais sobre o novo Código de Limpeza Urbana de Porto Alegre

spot_img
Gaio Fontella
Gaio Fontellahttps://realnews.com.br/category/opiniao/blog-do-gaio/
Gaio Fontella – Psicólogo e psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS. É comentarista e produtor do canal Café com Análise, no YouTube, e atua como coordenador da ONG Desafios, em Porto Alegre.
spot_imgspot_img
- Conteúdo Pago -spot_img