Neste domingo é dia das mães, uma das datas mais significativas para as pessoas, ainda que trata-se daqueles dias comemorativos de destaque no calendário, mas que na verdade poderiam ser comemorados todos os dias. Escrever sobre mães é fácil e ao mesmo tempo complicado, afinal mães são seres únicos, divinos e que nos ensinam o tempo todo, durante toda nossa vida. Não importa qual tipo de crença o leitor vive, mas tudo que definimos como divino gera e criam a vida, logo há algo mais próximo de todos nós, que geram e criam vida do que uma mãe? Vamos combinar que a conversa sobre essas mulheres maravilhosas, excluímos aquelas “mães” que não merecem esse título, pessoas que inexplicavelmente fazem atrocidades com filhos, essas distantes da maternidade e tudo que significa.
Ao leitor é importante também saber que tratando de mães, a melhor mãe do mundo é nossa. Sempre! Então, concordo plenamente contigo, que exalta a sua mãe como a melhor, mas modestamente afirmo que minha mãe sempre será a melhor mãe do mundo! Minha mãe era uma pessoa simples, que me ensinou muitas coisas, mesmo em silêncio, sei bem as dificuldades que ela passou ao criar seus seis filhos com dignidade, com muita força e fé em dias melhores, por isso não admito ser uma pessoa pessimista. Meu crescimento foi com muita dificuldade, mas tudo que passamos sempre foi com muita ternura e aprendizado, assistindo tudo que nossa mãe fazia por cada um de nós.
Lembro dos pequenos gestos de carinhos e atenção que mesmo cansada ela fazia, de forma sutil, imperceptível na época para uma criança, às vezes um toque, ou quando nos arrumava puxando a calça lá no umbigo! Um último retoque no rosto com a mão na boca e depois em nossos rostos, era um clássico dela! Herdei da minha “véinha” a paixão por cozinhar, a voz dela me explicando como fazer arroz, quando tinhas uns 9 anos, é um dos ecos eternos em minha mente, as receitas que só ela sabia o nome como as “chipinhas” – uma espécie de cuecas virada achatada, ninguém faz igual, o feijão só o da mamãe. Minha mãe tinha muitos dons, entre benzer todos meus amigos da rua, tirando cobreiro, verrugas e quebrantes em criança, há uma lenda que ela benzeu um cavalo que iria para o sacrifício e o cavalo depois de benzido por ela sobreviveu! Essa história é sempre contada para as visitas lá em casa, a véia era quase uma X-men.
Uma pessoa muito caridosa, nos ensinou a ajudar as pessoas sempre, minha mãe me deu todos os valores que possuo e que tento passar para minhas filhas, na falta de um pai – que perdemos muito cedo – a mãe foi uma verdadeira chefe de família, era um pilar! eu conversava sobre tudo, literalmente tudo, ela me ensinou a importância da mulher, a ser educado e gentil, me ensinou a namorar – era uma figura, contando suas histórias e experiências – e ainda tinha tempo para ler suas bíblias e livros de chás e ervas medicinais – que nunca deixou jogar fora! Contava histórias que nunca vou esquecer, que grudou em mim como a tabuada (a melhor é da formiga e macaco Simão), a paixão que tinha por plantas era sensacional, e insistia em ter sempre grama em casa, coisas que tento manter até hoje, a mãe era a resistência da rua, sempre plantando árvore nas calçadas, enquanto outros faziam pisos e cerâmicas, onde visitava pessoas ou lugares pedia uma “mudinha de planta”. Minha mãe tinha um vocabulário próprio, palavras e citações que só ela entendia e sabia o significado, hoje percebo que decorei e sei todas elas.
Infelizmente a arrogância e correria de nossos tempos fez com que convivesse cada vez menos com minha mãe, um erro idiota, que cometemos (e eu cometi) quando crescemos, fui vitima da rotina do trabalho e do relógio, mas ainda sim cada conversa, mesmo rápida, com ela era boa, as brigas eram professoras e me ensinaram muito, no fim todas as brigas eu pedia desculpa e ela sempre tinha razão. Há dois anos minha mãe partiu, foi descansar e gosto de acreditar que ela está no paraíso que nos ensinou – um lugar excelente – ela está em companhia de todos que ama e partiram antes. Lembro, em uma das conversas com ela, que falamos sobre vida e morte, a mãe falava, sobre o medo que tinha de perder um filho, dizia que não era natural um filho partir antes do pai e mãe. Como disse, ela sempre nos ensinava. Acredito que todas mães são assim, a todo momento, sempre ensinando seus filhos.
A relação com a mãe é diferente, mãe literalmente é uma só, há um instinto natural na mulher, que cria uma ligação para vida toda com seu filhote, nosso vínculo com a mãe é simbiótico, após o corte do umbigo no nascimento, a ligação espiritual e emocional segue inexplicavelmente para sempre. A “mãe sempre sabe”, o que acontece com filho, mãe protege, cuida, antecipa e lembra sempre. As frases de mãe são verdadeiras, “leva um casaco, vai esfriar” (e quando vê esfria mesmo), ou, “essa pessoa não presta” (e tá lá a pessoa cheia de rolo). Ser mãe é uma missão, dada a toda a mulher, que de alguma forma irá exercer a maternidade, mesmo sem ter literalmente um filho, às vezes, mãe não é apenas um estado físico, mas uma relação de verdadeiro amor e dedicação. Há vários ditados e frases sobre a maternidade, gosto de uma citação indiana que diz “o verdadeiro amor existente no mundo é o amor da mãe ao filho”, acredito que não há verdade mais absoluta que essa, uma mãe amará o filho sempre, com um amor verdadeiro, intrínseco à mulher, uma relação sem limite, não há o que uma mãe não faça pelo filho, nossa ligação com esse lugar (terra/planeta) é secundário, pois nosso primeiro espaço de vida que temos é o corpo de nossa mãe, nosso mundo, há ligação mais poderosa que essa ? Ter um mundo só seu, “minha mãe meu mundo”.
Exaltar a mãe, é exaltar tudo que entendemos por vida, por carinho, afeto e amor verdadeiro. As homenagens e referências devem ser feitas todos os dias, o calendário destaca uma data, mas sabemos que todos dias são poucos para elas. Eu sinto muito falta da minha mãe, mesmo sabendo que ela está bem onde quer que esteja (…), continuando rezando por todos nós, como fazia toda vez que os filhos saíam – ela rezava em nossas costas escondido, isso é ser mãe, cuidar e amar mesmo em silêncio.
Como citado acima, com respeito ao leitor, mas minha mãe é a melhor mãe do mundo! Uma das últimas coisas que fizemos juntos foi plantar uma árvore e falar como seria um pomar em um sítio, ela me disse as árvores que queria e eu falei as minhas, logo depois brigamos! e depois conversamos de novo, mas sobre recheio de pastel, era assim! Sinto saudades, a partida dela me deixou com vazio, que talvez nunca se preencha, fui tolo ao achar que teria mais tempo, enquanto girava a roda de hamster, buscando a estabilidade financeira para aproveitar depois, minha mãe mesmo quando partiu me ensinou que “o depois não existe”, abraços, beijos, tempo com a família, conversas e carinhos, devem fazer parte do nosso presente, o depois é arriscado, pode não acontecer. Meu mundo ganhou um tom de cinza com a ausência de minha mãe, se pudesse de alguma forma ter a oportunidade de vê la novamente, queria apenas sentar com a cabeça no seu colo, como fazia as vezes, sem falar nada, ela mexia no meu cabelo também em silêncio, estar junto com ela dessa forma era o jeito que dizia “eu te amo”, e ela sabia disso, que pelo que lembre nunca precisei falar de forma poética, mas sempre deixei claro.
No próximo domingo é dias mães, e minha mãe não estará aqui, assim como muitas outras que já partiram, se você que está lendo esse texto até aqui, tem a incrível oportunidade de estar com a sua mãe, pare tudo que está fazendo, não diga nada e apenas a surpreenda com um abraço, respire fundo em silêncio de olhos bem fechados, não perca essa oportunidade. Se estiver distante, apenas ligue e mande um “eu te amo”, não acredite no depois, faça isso por mim, por você e principalmente por ela.
Neste domingo é dia das mães, aproveitem o dia, e todos os outros dias com elas, porque “dizem que as mães nos ensinam tudo para a vida, menos viver sem elas”, minha mãe partiu e me ensinou até nos seus últimos dias muitas coisas, inclusive como fazer do mundo cinza mais colorido, através das minhas lembranças com ela. Mesmo assim, eu sinto a sua falta.