O “Fantástico” deste domingo (23) trouxe um desserviço conceitual no campo da Psicopatologia. Tendo como base uma “análise” do personagem (Emílio Dantas) da novela “Vai na Fé”, fez uma confusão entre o Transtorno de Personalidade Narcisista e o Transtorno de Personalidade Antissocial.
Existem sintomas em comum, podendo haver comorbidade. No entanto, há diferenças de intensidade e prejuízo, que é causado na alteridade, coisa que no segundo é mais grave (sugestão: vejam as diferenças no DSM-V, manual de classificação dos transtornos mentais da OMS).
Para nós, psicanalistas, é chocante a tendência da matéria em colocar o conceito de “narcisismo” como algo necessariamente patológico.
Freud, em Introdução ao Narcisismo” (1914), postula: “É verdade que o narcisista é aquele que cuida muito de si mesmo, mas quem não ama, adoece”.
Nessas colocações, a importância de não reproduzirmos o “Mito de Narciso” diante do espelho, considerando o outro, amando, é o mentalmente saudável.
A psicanálise Lacaniana, com base Freudiana, nos ensina que o narcisismo primário, excessivo, é normal no egoísmo infantil. No avanço do desenvolvimento psicossexual, o narcisismo secundário, pós-resolução edípica, será inclusivo do outro.
No processo sadio de constituição do sujeito psíquico, a função paterna precisa fazer o investimento narcísico necessário. Essa erotização, no sentido de vida, se dá com o transitivismo que marca o corpo positivamente com a linguagem. Que esta seja de autoestima para o emergente sujeito, escapar de uma estruturação perversa ou psicótica (o que dependerá da singularidade de cada caso, na intersubjetividade).
Portanto, precisamos da medida certa de narcisismo, para podermos ter autoestima, sermos capazes de bem amar e trabalhar, focos principais de uma análise, segundo Freud.
Gaio Fontella( Psicólogo, Psicanalista, debatedor do “Café com Análise no YouTube) e membro do psionline.