Na Calamidade-RS, um amor mais de perto: o dos Pets

O protagonismo dos pets na tragédia político-ambiental gaúcha não foi pouca coisa, trazendo à tona a relevância dos afetos entre animais humanos e não humanos e demandando reflexões sobre leis de proteção contra maus-tratos, albergagens e adoção.

Não há estranhamento para um psicanalista trazer as questões subjetivas e comportamentais que envolvem a intersubjetividade entre nós e nossos animais domésticos. Freud era cachorreiro e dizia que nosso amor por cães é grande, pois eles não têm com seus donos a crueldade que existe nas relações humanas.

Há pessoas que criticam a forma como os amantes dos pets os tratam, inclusive como filhos, membros da família. Objeto de afeto é o que cada um determina ser. Desenvolvemos com eles, que têm uma inserção em linguagem própria, dizia Lacan, uma comunicação linda e um amor genuinamente incondicional, raro com humanos.

Não somos nós que os humanizamos, mas ao contrário, pois eles ajudam na socialização e são terapêuticos no tratamento de ansiedade e depressão.

As políticas públicas na proteção contra os maus-tratos animais, por tudo isso, devem avançar com mais hospitais próprios e maiores rigores nas leis contra abandonos e maus-tratos.

Como eles já estão contemplados no direito de família, com guarda compartilhada, também a adoção deve ter suas regras com os devidos cuidados. Agora, nas cheias, tivemos muito acolhimento, mas reforço a ponderação: não se deve esgotar tão rapidamente a entrega para novos tutores, sem dar chance aos antigos, pois os sofrimentos envolvem todos os atores nessa seara que tem objetivos solidários.

E temos uma memória linda, simbólica, no meio da tragédia: a história de resgate do cavalo caramelo. Este lindo bicho deu uma lição de paciência, perseverança e resistência pela vida, ficando quatro dias em cima de uma casa cercada por quatro quilômetros de água. Se saísse a nado, certamente se perderia, cansaria, morreria afogado. Fica a lição que pinotes imprudentes podem nos matar.

Agora temos ainda outros 17 caramelos que não reencontraram seus donos. Que se faça mais divulgação para que isso aconteça, pois o prazo se esgota dia 16 de julho (donos podem ligar para o 051-981311844). Depois, ficarão disponíveis para adoção (informações pelo 051-997560848).

As lições dos animais e da natureza precisam ser assimiladas nas condutas e nas leis que contenham as crueldades e a ganância do capitalismo neoliberal, que tudo destrói e a todos vai matando.

spot_img
Gaio Fontella
Gaio Fontellahttps://realnews.com.br/category/opiniao/blog-do-gaio/
Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista e produtor do “Café com Análise”, no Youtube.

LEIA MAIS

- Conteúdo Pago -spot_img