Por conta do cinco de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, não é demais repetirmos reflexões sobre repetições que nos matam, destruindo tudo e comprometendo até a esperança de um viver melhor.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial, há uma possibilidade de 65% de que, até 2027, o aquecimento global ultrapasse a média anual cujo limite é de 1,5°C. Com isso, num tempo que se reduz cada vez mais, a bandeira ambientalista deve ser de todos!
O aquecimento global, os descasos com leis ambientais e as manutenções que evitem alagamentos precisam ser apontados como mantras que cheguem às ruas, em brechas de inundações, gritando por políticas públicas em respeito às vidas, por uma produção e crescimento realmente sustentáveis, sem demagogias negacionistas.
É impossível pensar em preservar o meio ambiente sem lembrarmos que o descuido, como sintoma, também se expressa no cotidiano, nos lares, nas ruas, nas escolas, na forma de produzir alimentos e trabalho.
O ambiente, considerado em todas as teorias psicológicas do desenvolvimento, trago com um foco importantíssimo. Sim, pois o que chega nas escolhas políticas passa pelos valores que se adquirem no lar, na educação.
O teórico da psicologia do desenvolvimento, o psicanalista Winnicott, nos falava da importância de um ambiente transicional seguro e que também fosse de solidariedade nos aprendizados compartilhados. Quando nossa casa é insalubre, desequilibrada cognitivamente e emocionalmente, fica mais difícil buscarmos identificações lá fora. Isso passa por hábitos de higiene, mas também de harmonia, de não violência entre os seres, com animais e plantas.
A psicanálise clínica não tem função psicoeducacional. Porém, num ato analítico, é impossível que não pontuemos as desarmonias ambientais que chegam no discurso de nossos analisandos.
As compulsões consumistas, enquanto sintomas de mania e adoecimentos psicossomáticos, passam pelo que Lacan nomeou de gozo-sofrimento. E na crítica ao “Discurso Capitalista”, temos um prazer que nega a castração, numa ilusão de que os excessos vão nos fazer plenos de satisfação. Assim é a conduta dos predadores que, em nome do lucro, poluem, desmatam, desalojam e matam quilombolas, índios e sem-teto, com a chancela dos gestores neoliberais que não cuidam e não fiscalizam o que garantiria um viver com saúde e dignidade.
A urgência é de mobilizações massivas que contemplem um repensar de tudo: forma de produção, tecnologia a serviço da vida, acesso aos rios sem muros descuidados, planos diretores com estes propósitos, espaços urbanos nos quais o cimento não seja maior que o verde.
A pulsão de morte tem que parar de dar as cartas. Quem realmente quer a vida, com saúde, pode trazer isso para sua análise pessoal, para não atuar na contramão, seja no seio familiar, no trabalho, na sociedade, sem jogar lixos nas ruas, nos bueiros, nas urnas. Ecologia no meio interno e externo das células e das almas são urgentes!
Obs.: Para quem gosta de filme de ação e suspense, com tubarões, recomendo “Sob as Águas do Sena”, na Netflix. Apesar de roteiro e narrativa óbvios, o bom elenco e o mérito de falar da poluição dos mares e suas repercussões são pontos positivos.