Matteus, ao longo de sua participação no BBB, em um confinamento grupal que revela sintomas, caráter e saúde mental, foi exemplo de equilíbrio, gentileza e determinação na disputa, sem ofender ninguém, tampouco as mulheres.
Este guri alegretense trouxe seu estilo de homem do interior do Rio Grande do Sul, calejado das lutas campeiras, com uma gratidão enorme pela família, sobretudo pela mãe e avó. A identificação com o perfil gaúcho não veio carregada de supremacia machista, dando um lugar para a força que recebeu na educação e nos estudos.
A disputa tomou conta das redes sociais, mesmo entre os que odeiam o BBB. Alguns trouxeram comentários indutivos que não têm base lógica em relação ao perfil de Matteus:
– Seu linguajar gaudério e seus gostos pelas lidas do campo seriam determinantes para que fosse taxado de propagador de uma cultura machista? Por favor! Machismo requer discurso e prática, não tem sotaque nem indumentária, o que não se aplica ao jovem que ficou em segundo lugar.
– Seus namoros fariam parte de um jogo oportunista com as mulheres? Outra falácia, considerando que isso não foi sem o consentimento delas, que também poderiam estar jogando com isso!
O segundo lugar é uma vitória da masculinidade gentil, da competição ética e respeitosa. Temos um novo parâmetro para contrapor aos estereótipos gaúchos mais conservadores. Além de ter sido porta-voz de uma das mais belas composições de nossa música: “O Canto Alegretense”, de Bagre e Nico Fagundes (este, que carinhosamente eu chamava de “Tio”, por laços entre nossas famílias, foi exemplo de gauchismo culto e respeito ao feminino).
Quanto ao Davi: Capturou o prêmio com o lugar de preto e pobre. Com isso, torcedores passaram por cima do machismo e misoginia dele. Segundo o jornalista Gil Cunha, militante LGBT+, parceiro na produção da Feira Baile da Diversidade e Parada de Luta do Mercosul, Davi ocupou um lugar de falas “problemáticas”:
– “Sou homem, não sou viado” virou um regionalismo baiano e piada na internet. “Psiu!” para uma mulher e “Inútil” foi contemporizado porque a interlocutora era mulher, branca e adversária.
– “Calabreso” nunca foi visto como gordofobia, apesar de ter sido proferido durante um caloroso embate e direcionado para um oponente fora dos padrões de peso e corpo.
– “SE COLOQUE NO SEU LUGAR DE MULHER E ME RESPEITE QUE SOU HOMEM” também não foi encarado como machismo, e sim como manifestação de reciprocidade de direitos. Isso sem contar toda a manipulação, “gaslighting” e tortura psicológica praticadas contra Isabele, sua única aliada no jogo.
Se no confinamento Davi e Matteus, respectivamente, revelaram preconceitos e gentilezas, acredito que fora estarão mais livres para esses comportamentos. Se Davi, como disse o apresentador do BBB, Tadeu Schmidt, foi se corrigindo, isso é bem provável que fizesse parte de seu jogo, saindo do lugar de rejeitado no grupo e cativando mais a torcida.
Como psicólogo e psicanalista, sempre vou apostar na mudança do ser humano, quando houver demanda para isso, mas num jogo em que a disputa consigo mesmo tem como prêmio uma melhor saúde mental, nos relacionamentos e na vida como um todo, não objetivado 3 milhões.
Como profissional que trabalha com o corte, sem pacto com nenhum discurso de opressão e discriminação, não poderia ser torcedor de Davi. Seus saldos e salmos, agora, aqui fora, vão testemunhar o quanto ele pode ou não provar ser não um “macho”, mas um cidadão que respeita os demais, inclusive para exercer a medicina.