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Lobo em pele de cordeiro

Há lobos andando entre nós , nem sempre com garras à mostra, muitas vezes vestidos de bom-cidadão, com título na porta, cargo respeitável ou sorriso piedoso. Eles existem em todos os lugares: hospitais e templos, escritórios e repartições públicas, nas pregações e nos palanques. A aparência não garante caráter. A profissão, a fé ou a filiação política não limpam a alma nem apagam o crime. Quem erra, deve responder pelo erro.

Não podemos compactuar com a cultura do acobertamento nem com o isso é exceção quando a exceção é a regra camuflada. Quando um médico abusa da confiança do paciente, quando um pastor trai o rebanho, quando um advogado manipula a lei para benefício próprio, quando um político troca o bem comum por interesses particulares , a resposta não pode ser silêncio nem leniência. A lei existe exatamente para que ninguém esteja acima dela. Justiça não é vingança; é ordem, proteção das vítimas e restauração da confiança social.

Dito isso, é igualmente perigoso jogar todo mundo no mesmo balaio. Não podemos condenar profissões inteiras, nem crucificar comunidades inteiras por causa dos atos de alguns. O erro é do caráter, não do crachá. Generalizar é facilitar que os verdadeiros culpados se escondam atrás do rótulo de “minha categoria” ou “minha fé”. Exigir responsabilidade é diferente de estigmatizar; exigir punição justa é diferente de promover ódio.

A justiça que defendemos deve ser imparcial: investigativa, técnica e firme. Processo, provas, julgamento justo e, onde couber, punição proporcional , sem favoritismos, sem perdões por prerrogativa. Se alguém errou, pague por seus atos diante da lei. Se alguém for inocente, que seja defendido com a mesma vigorosidade com que se persegue o culpado. Somente assim restabelecemos a confiança entre as pessoas e nas instituições.

Não podemos nos esquecer da dimensão moral e espiritual. Como cristãos, lembramos que Jesus ensinou a discernir e a não nos deixarmos enganar por aparências , e também falou de arrependimento e transformação. Justiça e misericórdia não são opostas: a justiça protege e pune onde é preciso; a misericórdia orienta e reconstrói quando há arrependimento verdadeiro. Mas a misericórdia não substituirá a responsabilização; reconciliar-se começa com a verdade sendo dita e a justiça sendo feita.

Portanto: denuncie o mal quando o vir. Proteja as vítimas. Exija investigações sérias. Não confunda cargo com caráter, rótulo com integridade. Quem erra deve pagar ,pela lei, pela vítima e pela sociedade, e quem é inocente deve ser preservado. Só assim construiremos uma comunidade justa, onde o cordeiro permanece cordeiro e o lobo não encontra disfarce que o proteja.

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