spot_img

Julgamento no STF tem segundo dia marcado por sustentação técnica e tensões entre réus

O segundo dia do julgamento dos sete acusados de participação em uma tentativa de golpe de Estado, conduzido pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), teve continuidade nesta quarta-feira (data) com uma nova rodada de sustentações orais por parte das defesas. Diferentemente da primeira sessão, marcada por discursos genéricos e pouco embasados, os advogados demonstraram preparo técnico e buscaram minar as principais provas apresentadas pela acusação.

Entre os réus que tiveram suas defesas ouvidas estão o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Augusto Heleno, e os ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto, ambos ligados à área da Defesa no governo anterior. As manifestações se concentraram principalmente em deslegitimar a delação premiada de Mauro Cid, apontado como peça-chave na estruturação das denúncias.

O advogado José Luís de Oliveira Lima, que representa Braga Netto, questionou a confiabilidade da colaboração de Cid, destacando supostos trechos contraditórios e ausência de provas materiais — especialmente no que se refere à alegação de repasse de valores para financiar ações antidemocráticas. Segundo ele, Cid não foi capaz de indicar sequer o local exato onde o dinheiro teria sido entregue.

A linha de defesa de Jair Bolsonaro seguiu um caminho diferente: os advogados tentaram reforçar a imagem do ex-presidente como alguém que respeitou os trâmites da transição de governo, mesmo sem ter participado diretamente da cerimônia de posse ou reconhecido publicamente sua derrota nas urnas. A estratégia visou enfraquecer a tese de que Bolsonaro teria atuado diretamente para romper a ordem institucional.

No entanto, a fala do advogado Andrew Fernandes Faria, que representa o general Paulo Sérgio Nogueira, trouxe um elemento novo ao reforçar que seu cliente teria feito esforços para impedir ações mais radicais por parte do então presidente. A declaração, embora destinada a aliviar a situação de Nogueira, foi interpretada por analistas como uma admissão implícita da existência de articulações golpistas — o que, indiretamente, agrava a situação de Bolsonaro.

Todos os defensores criticaram a quantidade de documentos enviados pela Polícia Federal e o curto prazo para análise. Apesar das queixas, a sessão desta quarta-feira foi considerada mais sólida tecnicamente. Segundo bastidores do STF, alguns ministros demonstraram atenção a argumentos que podem, inclusive, influenciar decisões futuras quanto à dosimetria das penas ou absolvições parciais — especialmente no caso de Nogueira.

Já o ex-ministro Augusto Heleno, representado pelo advogado Matheus Milanez, também se queixou da complexidade do processo e buscou isolar a atuação de seu cliente das demais acusações, alegando falta de envolvimento direto.

Ainda que as defesas tenham buscado narrativas individuais para atenuar a responsabilidade de seus clientes, o segundo dia de julgamento deixou claro que há tensões internas entre os réus. Na tentativa de se desvencilharem das acusações, alguns acabaram expondo ou contradizendo os demais — criando um cenário de fragilidade conjunta diante do Supremo.

Na abertura do julgamento, realizada na terça-feira, o ministro Alexandre de Moraes já havia sinalizado que a Corte considerava haver indícios sólidos de uma tentativa de ruptura institucional. Sua fala foi interpretada como um prenúncio de votos duros contra os réus, reforçando a gravidade das acusações.

 

Foto: Gustavo Moreno/STF

spot_img
Wagner Andrade
Wagner Andradehttps://realnews.com.br/
Eu falo o que não querem ouvir. Política, futebol e intensidade. Se é pra sentir, segue. Se é pra fugir, cala.
- Conteúdo Pago -spot_img