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IV Conferência Estadual Lgbt+ do RS: inclusão interna vitoriosa

A Conferência da Diversidade Gaúcha, realizada de 1º a 3 de agosto, no Hotel Continental, em Porto Alegre, contou com a participação de representantes de 24 municípios de importantes regiões e reuniu cerca de 300 delegados. O evento teve forte presença de jovens e pautas interseccionais, que, no plenário democrático — regido por normas votadas coletivamente — buscaram contemplar com equidade suas demandas. Além disso, promoveu momentos de cultura afirmativa, debates e reflexões relevantes.

Na abertura, houve convergência nas pautas de luta pelos direitos e no combate à homotransfobia, sem sectarismos. Glória Crystal, representando a gestão estadual, ressaltou a vitória da resiliência do traviarcardo que resiste na luta, em um país que mais mata pessoas trans e travestis, cuja expectativa de vida é de apenas 35 anos. A representatividade travesti foi reforçada pelo humor de Pitty Barbosa, presidente do Conselho Estadual.

Nossa Secretária Nacional, Symmy Larrat, destacou a pesquisa do Banco Mundial com apoio de organizações brasileiras: O Custo da Exclusão LGBTI+ no Brasil. Fred Nicácio — médico, ex-BBB, que como embaixador do Fundo Positivo esteve engajado na ajuda aos desabrigados da tragédia político-ambiental do RS, anuiu à pesquisa de Larrat.

A deputada Luciana Genro foi reverenciada pelo mediador e organizador, Fábulo Rosa, por destinar R$ 500 mil de verbas parlamentares para ambulatórios trans e colaborar com a organização do evento. Luciana fez uma ponderação incomum na esquerda, com a qual me identifico: reconhecer que termos um governador gay, Eduardo Leite (que enviou vídeo em apoio ao evento), é um avanço afirmativo para nossa comunidade, especialmente em um estado machista.

A cultura drag e trans, representada por Glória Crystal, apresentou performances de nossas divas, entre elas a impecável dublagem de Josiane de Oliveira, Rainha da Feira Baile da Diversidade.

No sábado pela manhã, após intensos debates, foi aprovada a alteração na orientação do regimento nacional: 80% de delegados da sociedade civil e 20% de gestores (45 e 11, respectivamente).

No Eixo 2, do qual participei, contamos com a elegância e experiência de Maitê Schneider, do projeto Transempregos. Esse trabalho promissor corre risco de extinção devido aos retrocessos impulsionados pela extrema direita, influente no empresariado. Sua franqueza sobre a falta de soluções para a população trans e travesti idosa reforçou a necessidade de apostar no empreendedorismo — representado pelo Fórum de Empreendedorismo e pela Feira Baile da Diversidade, eventos que coordeno.

Ao lado de Maitê Schirmer, voz ativa na inclusão pelo Transempregos

Com apoio unânime, incluí a demanda para que nossos eventos recebam apoio, inclusive do Fundo de Reconstrução. Tive a honra de ser o relator do documento do Eixo 2, redigido com competência por Patrícia Salbego e apresentado em 15 minutos, sem destaques.

Embora não tenha sido eleito, considero-me vitorioso por contribuir com a divulgação da pauta do empreendedorismo e turismo gay friendly, atuando como ativista e psicólogo na elaboração do documento. Além disso, fortaleço laços com parceiros que apoiam minhas idealizações, como o Orçamento Participativo, a Parada de Luta LGBTI+, o Miss Universo Trans e o FESTURIS.

Consolidei apoio de líderes como Nelson Matias, presidente da Associação da Parada de SP, e recebi o reconhecimento de Symmy Larrat, com quem já havia me reunido ao lado de Mainster e Giovani Culau, na coordenação do SOS RS Diversidade, que luta por reparos à nossa comunidade após a catástrofe político-ambiental. (Estamos aguardando definição do encontro com Symmy Larrat para reunião do SOS RS na OAB, possivelmente em setembro.)

Em todas essas ações, tenho parceria de muitos guerreiros, como Bianca Hilbert (OAB), Inajara Terra, Kate Lima, Daniel Passaglia, entre outros. Também destaco os delegados eleitos para a Conferência Nacional: Roberto Seintenfus (Parada de Luta LGBTI+ de Porto Alegre), Sarita (liderança de São Leopoldo e mais votada entre os idosos) e Maria Odete Bento (Coordenação da Diversidade de Porto Alegre).

Com Sarita, orgulho e exemplo de longevidade para a comunidade travesti

Acredito que o movimento da sociedade civil LGBT+ precisa do engajamento de todos, todas e todes para impulsionar o empreendedorismo e o turismo gay friendly, especialmente considerando que Porto Alegre é a capital LGBT+ do país.

Parabenizo a organização da IV Conferência LGBT+ do RS pelo esforço e ressalto alguns desafios para aprimoramento: garantir intérpretes para que pessoas surdas participem de todos os eixos; possibilitar debates entre candidatos a delegado com tempo ampliado; e assegurar que personalidades pioneiras, como a traviarcarda Marcely Malta, tenham espaço garantido na Conferência Nacional.

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Gaio Fontella
Gaio Fontellahttps://realnews.com.br/category/opiniao/blog-do-gaio/
Gaio Fontella – Psicólogo e psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS. É comentarista e produtor do canal Café com Análise, no YouTube, e atua como coordenador da ONG Desafios, em Porto Alegre.
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