Cuba perdeu espaço na política americana ao longo dos anos e agora é preciso entender qual será a extensão das manifestações e reações de Havana para saber quais as possíveis respostas dos EUA. Essa é a avaliação do presidente do Conselho Econômico e Comercial EUA-Cuba, John Kavulich, em entrevista ao Estadão.
O sr. enxerga um ponto de virada no socialismo de Cuba?
Não sei e quem diz que sabe também não sabe, porque nem os cubanos sabem. Sou hesitante em prever se o que ocorreu faz parte do momento que será mais importante do que outros em Cuba. Sou cético em apoiar isso porque a história sempre foi feita de momentos. Manifestações, questionamentos, ocorreram em Cuba e o governo sempre esteve dando respostas e pronto para seguir. (O presidente Miguel) Díaz-Canel está no Twitter, outras autoridades também. O Granma está no Twitter. Ou seja, as lideranças cubanas não estão lutando uma batalha do século 21 com ferramentas do século 20, estão lutando igualmente. E o governo de Cuba se beneficia do fato de o governo americano não querer se envolver. É chocante que Cuba, Haiti, não estejam neste momento no radar da política americana.
Por que Cuba deixou de ser uma prioridade para os EUA?
Cuba sempre teve uma importância na política americana maior do que deveria. As questões de sua localização e economia foram maximizadas por conta dos dissidentes vivendo nos EUA. Isso levou a consequências internas, mas com o tempo, os EUA foram se envolvendo no Afeganistão, na Nicarágua, na Ucrânia, em vários conflitos em diferentes países. Isso forçou os EUA a focar e, lentamente, Cuba passa a ser vista como outro país do Caribe com potencial, mas que não necessita tanta atenção como antes. Isso é bom para Cuba, e para os EUA também. Cuba só foi tão grande (na política americana) porque outros países deram dinheiro. Quando teve de sobreviver por conta deixou de ser tão importante.
Por que então o embargo ainda existe?
As divisões políticas nos EUA se tornaram tão diferentes que o embargo se transformou numa ferramenta para tentar punir Cuba. O pensamento passou a ser ‘ou você gosta do socialismo ou da democracia, então se você vai apoiar mudanças, você deve ser fraco com ditadores, comunistas e socialistas’. Isso tornou mais fácil deixar as coisas como estão. Presidentes após serem eleitos focam na reeleição.
Por Fernanda Simas