Nos tempos que as escolas de Canoas tinham a nobre missão de ensinar – diferentemente do discurso pronto de educar, pois educação ainda é uma obrigação e responsabilidade dos pais e responsáveis, ainda. Nesse período que tive a satisfação e privilégio de vivenciar, lembro com carinho da escola de ensino fundamental incompleto, que frequentei, os populares “colégios até a quarta série”, que positivamente criavam um vínculo entre alunos, professores, pais e funcionários, todos se conheciam, um respeito mútuo, e principalmente uma admiração e consideração pelos professores e funcionários que ali trabalhavam. Era boa a convivência, as crianças separadas dos adolescentes maiores, escolas pequenas sempre foram melhor administradas e organizadas, pelo menos no passado recente, as rotinas eram melhores observadas, professores tinham um vínculo mais afetivo com os alunos, que por sua vez aprendiam a conviver, proteger e respeitar as crianças do “pré” (hoje a pré-escola), classe especial e também os zeladores (que eram os tios e tias que cuidam da escola). Adoravamos aqueles encontros entre as escolas do mesmo nível, criamos expectativas para passar para as escolas dos adolescentes, geralmente as estaduais de ensino fundamental completo ou ensino médio, sem pressa, aproveitando o máximo possível as rotinas e experiências daquele período, festas de turmas, reuniões com apresentações e outras atividades onde as mães dos colegas disputavam que fazia a melhor “nega maluca” (ninguém tinha a maldade do politicamente correto naquela fase), se o prato viesse vazio era a glória! os alunos sempre elegem o melhor doce ou salgado – que momento.
Fato que, após inúmeros debates, testes e conceitos criados certamente por quem não tinha essa rotina nas comunidades, a ideia de educação evoluiu – será? – encerrando um ciclo para as pequenas escolas, algumas pessoas ainda defendem que o modelo anterior para a educação básica era melhor, a bem da verdade, observamos o efeito daquele modelo na geração de até trinta ou quarenta anos e estamos na expectativa de verificar os resultados da geração formada por esse novo modelo brotado de conceitos e trabalhos acadêmicos de intelectuais de carpete, com toda certeza um longo debate poderia ser analisado sobre esse tema. O que sabemos é que a maioria das pessoas, principalmente em comunidades, sentem falta das pequenas escolas, pode até ser nostalgia mas os resultados eram bem melhores e visíveis, outros tempos, outras ferramentas e momento.
A educação mudou, os prédios mudaram, materiais e tecnologias, penso o que nossa geração no ensino fundamental e médio teriam realizado com todos os recursos existentes atualmente, seria um desenvolvimento fantástico, as escolas e alunos teriam oportunidades semelhantes aos alunos de escolas particulares, por exemplo, uma vez que as escolas públicas mudam constantemente, de acordo com a vontade, capricho ou cartilha de alguns gestores, mas as escolas privadas seguem um modelo geralmente tradicional eficiente – no sentido de seus fundamentos, adaptando as ferramentas disponíveis mas mantendo o conceito de ensino de seu seguimento (…). Na escola pública, infelizmente a educação fundamental tem recebido mais interferência (política) do que nunca, afastando assim a comunidade das suas rotinas, eventos políticos, cerimônias e prestações de contas unilaterais – como um grande show diga-se de passagem, substituem as reuniões informais de pais e professores, atividades locais e a convivência da comunidade diretamente com os agentes públicos de ponta, na verdade o sistema tem afastado as pessoas dos debates sobre a cidade, a falsa impressão de participação é visível, um clima de insatisfação e falta de paciência com a política nos levou para essa realidade de intolerâncias. Os projetos adotados, na maioria das cidades do Brasil, para participação popular não são eficazes, funcionam apenas para seus idealizadores e pequenos grupos ensaiados, convidados e garimpados como meta de trabalho dos colaboradores da gestão, ou os famosos CC’s, vivemos em um tempo que mídia é tudo, a verdade ou fato vai depender da foto, da selfie e como vai sair no Instagram, números que não são questionados de atendimentos que não fazem parte da realidade das pessoas. Assim como na educação, as teses, fórmulas e conceito de políticas públicas e de participação são elaboradas nas academias por pessoas distantes da realidade do público que querem ou pretendem alcançar. O fato é, as mudanças são em prol de quem as propõe e não daqueles a quem se destina, isso somado a um marketing intensivo, maciço e fictício, tem resultados aparentemente bons, contudo, na educação fundamental e na realidade das cidades sabemos que no fundo não está funcionando e sentimos falta do contato direto com o único elemento que não muda, o empregado público não eletivo, que vítima da vaidades de gestores acabam sendo vidraça para a população.
Iniciar falando sobre educação, vínculo entre comunidade e escola, professores e funcionários é necessário para que se entenda que aquela escola onde estamos e nossos pais confiaram a atenção e ensino dos filhos, podem ter mudado, mas os professores, funcionários e colaboradores são os mesmos, ainda em maioria. ACREDITE, em nossa cidade, e demais cidades do país, se existe uma classe que acredita na possibilidade de dias melhores são os bons funcionários públicos, que lutam diariamente como todo trabalhador brasileiro, todavia são os mais visados e apedrejados pela população, que aos poucos passaram a entendê-los como culpados, fruto alguns dizem, dessas novas teses e modus operandis, de afastar as comunidades dos servidores de pontas, para criar vínculo e dependência com os gestores do executivo e legislativo, parvo erro de ambos. Os profissionais que executam de fato as demandas, que acolhem nossos filhos em espaços de aprendizagem, que os alimentam, assistem quando enfermos, aqueles que se esmeram para sanar problemas em nossas ruas, postes, esgotos ou aqueles que prestam serviços além de sua atribuição estatal, esses são os profissionais e servidores permanentes que fazem e farão parte da formação do cidadão, muitas vezes da infância até a fase adulta, estes não caberiam em tendas e gazebos, para selfies maquiadas.
Aos que foram nossos professores, merendeiras, guardas e todos outros funcionários públicos de nossa e outras cidades, esses merecem toda a admiração e respeito sempre, espero que por mais complexo que seja a gestão de uma cidade para o chefe do executivo, que se possa ter mais consideração, “com a brava… gente canoense”, por quem de fato carrega nas costas a cidade da vida real.