Parece um filme de Tarantino. De certa forma, a “Revolução Farroupilha” daria uma boa versão deste grande diretor, que tem o estilo de mostrar a violência de forma explícita. O 20 de setembro não deixa de ser uma sequência da violência da “Guerra dos Farrapos” em termos de veracidade histórica, o que se reflete nos atos das gestões neoliberais em nosso estado.
Não podemos deixar de mencionar que o evento é uma comemoração da derrota das nossas oligarquias, que iludiu os adeptos da classe baixa, especialmente os “Lanceiros Negros,” com uma promessa não cumprida de liberdade. O paradoxo persiste: o chamado “orgulho” de ser gaúcho, que atinge o seu auge nesta data, continua a ser um delírio generalizado.
Quando o território da comemoração, o Parque Harmonia, é vendido pelos defensores do “Estado mínimo,” como o espírito do gauchismo pode permanecer intacto? Freud certamente faria um apelo ao princípio da realidade; Lacan alertaria para o prazer-sofrimento que a destruição e a venda pública impõem.
Dado que a tradição é forte, sugiro um movimento instituinte propondo “novas realizações” para o 20 de setembro, trazendo motivos reais de orgulho à alma gaúcha. O conceito do filósofo Derrida, “desconstrução,” pode ajudar: desconstruir não é destruir tudo, mas sim criar algo diferente a partir do que já existe. Neste caso, significa contar a história real, preservando a cultura gastronômica, as indumentárias e a música gauchesca.
Devemos manter o território ocupado livre de especulações imobiliárias. Isso poderia dar origem a um grande espaço memorial. Isso proporcionaria visibilidade com um verdadeiro orgulho, homenageando personalidades que contribuíram para a história da literatura, das artes e da música, como Érico Veríssimo, Josué Guimarães, Moacir Scliar, Fernando Baril, Bebeto Alves, Mário Barbará, Valmor Chagas, Olga e Carlos Reverbel, entre outros.
Que essas novas façanhas sigam de modelo a toda terra. Já temos algo novo que parece promissor e que pode se tornar uma tradição solidária: a Cavalgada para arrecadar donativos para as vítimas de nossas trágicas enchentes.
Podemos comemorar o 20 de setembro com orgulho dessas personalidades como símbolos da nossa cultura, e quem sabe, isso possa resultar em políticas públicas que elevem nosso IDH do quinto lugar no ranking brasileiro e promovam a produção cultural.
Assim, não estaremos mais presos à ficção, mas teremos um documentário que enche de orgulho, criatividade e liberdade.