Exaltar a memória de um torturador é um insulto às vítimas da ditadura militar e uma afronta aos valores fundamentais da democracia. A atitude de homenagear Carlos Alberto Brilhante Ustra, o único militar brasileiro declarado torturador pela Justiça, representa uma tentativa de apagar os horrores cometidos em nome de um regime que matou, torturou e silenciou.
Os Horrores da tortura comandada por Ustra
Ustra, conhecido pelo apelido de “Doutor Tibiriçá”, foi chefe do DOI-Codi, órgão responsável pela repressão política nos anos de chumbo. Durante sua gestão, pelo menos 500 casos de tortura foram registrados, e ele foi acusado de desaparecimento e morte de mais de 60 pessoas. Os relatos das vítimas sobre os métodos brutais empregados sob seu comando são devastadores.
- Choques elétricos e violência física
Um estudante de medicina de 19 anos, preso por se recusar a fornecer informações sobre uma amiga, foi submetido a choques elétricos diários. Nu e posicionado em latas metálicas, ele era molhado com água salgada e torturado com cipós, enquanto Ustra gritava exigindo confissões. As marcas dessa barbárie permanecem: perda auditiva permanente e traumas psicológicos. - Estupros e violência sexual negados, mas testemunhados
Ustra foi acusado por diversas vítimas de comandar sessões de tortura que incluíam violência sexual, embora ele tenha negado tais crimes. Relatos apontam o uso sistemático da violência sexual como ferramenta de humilhação e coerção, amplificando o terror dentro das instalações do DOI-Codi. - Desaparecimentos forçados
Sob sua liderança, dezenas de presos políticos desapareceram, como Carlos Nicolau Danielli, morto em 1972. Ustra nunca foi condenado por esses crimes, mas seu nome é sinônimo de opressão e crueldade.
O insulto de exaltar um torturador
A presença de um vereador que homenageia Ustra no espaço público, como no caso de Porto Alegre, é um tapa na cara das vítimas e de seus familiares. É como dizer às pessoas que sofreram nas mãos da ditadura: “Sua dor não importa”. Mais do que um desrespeito, isso representa um retrocesso na construção de uma sociedade que valoriza os direitos humanos e a dignidade de todos.
Ustra não foi um herói. Ele foi um homem que comandou a tortura, que desumanizou e destruiu vidas em nome de um regime autoritário. Idolatrar uma figura como essa é defender a normalização da violência e da repressão, algo inaceitável em um país que já sofreu tanto para conquistar sua democracia.
Permitir que figuras públicas enalteçam torturadores é permitir que a barbárie encontre espaço em nosso presente e futuro. Não podemos aceitar que narrativas de idolatria a opressores sejam propagadas impunemente.
Porto Alegre, assim como todo o Brasil, merece líderes que respeitem a democracia, honrem as vítimas da ditadura e rejeitem qualquer forma de autoritarismo. Que esse episódio sirva como um alerta: a história não deve ser reescrita para acomodar ideologias extremistas, mas sim lembrada para que atrocidades como as cometidas por Ustra nunca mais se repitam. A idiotização da politica não deve ser levada adiante. Lembrando que ele só pôde fazer isso, pois vive em uma democracia.
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