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Em meio à disputa por território, estudo aponta terras indígenas como esperança para preservação ambiental

Dados do Instituto de Estudos Culturais e Ambientais mostram saldo positivo na captura de carbono em áreas indígenas, reforçando resistência contra projeto que prevê doação de área para iniciativa privada.

Em meio à tramitação de um projeto de lei do governo Eduardo Leite, que prevê a doação de 88 hectares da antiga Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) para a iniciativa privada, indígenas Mbya Guarani intensificam a mobilização para barrar a medida. O texto propõe destinar o terreno à construção de galpões e de um centro logístico.

Desde fevereiro de 2024, o espaço é ocupado por 57 famílias da aldeia Tekoa Nhe’engatu, que instalaram moradias, abriram uma escola e recebem atendimento da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI). A ocupação, chamada de “retomada”, é defendida como a revitalização de um local antes abandonado.

A disputa está judicializada desde julho de 2024, quando o governo estadual ingressou com pedido de reintegração de posse. A Justiça Federal negou a solicitação, decisão posteriormente confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. O tribunal garantiu “proteção possessória” à comunidade, abrindo caminho para negociações.

Lideranças indígenas em frente ao Palácio Piratini – Foto: Rafa Dotti

Dados ambientais reforçam o argumento

Durante audiência sobre o Projeto de Lei 280/2025, realizada na noite desta terça-feira (12), o cacique Abílio da Silva afirmou que “as áreas mais preservadas do Rio Grande do Sul e do Brasil são exatamente as ocupadas pela população indígena”.

A declaração encontra respaldo no Projeto Ar, Água e Terra, iniciativa do Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (IECAM), patrocinada pela Petrobras.

O levantamento mais recente, com metodologia reconhecida internacionalmente, revelou que, em 2024, as aldeias participantes capturaram mais CO₂ do que emitiram. Foram registradas 10,95 toneladas de emissões contra 3.877 toneladas capturadas, resultando em redução líquida de 3.869,97 toneladas de CO₂ equivalente no período.

Além disso, áreas reconvertidas e preservadas apresentam potencial de captura de até 42 mil toneladas de CO₂ em 20 anos.

Cacique Cirilo, em aldeia na Lomba do Pinheiro – Foto: Divulgação/IECAM

Agroflorestas: tradição e inovação integradas

O projeto também aposta nos Sistemas Agroflorestais (SAFs), que unem agricultura e floresta, recuperam áreas degradadas, aumentam a biodiversidade e fortalecem a segurança alimentar.

Na Teko’a Anhetenguá, por exemplo, o cultivo de bananeiras tem sido essencial para regenerar o solo e controlar espécies invasoras.

Para Denise Wolf, coordenadora do projeto e presidente do IECAM, “as agroflorestas unem restauração ecológica e geração de renda, promovendo resiliência frente às mudanças climáticas”.

A iniciativa ainda investe em educação ambiental para as novas gerações. Em uma escola indígena de Torres, crianças participaram de aulas práticas e do plantio de mudas nativas, reforçando o elo entre conhecimento tradicional e conservação ambiental.

Próximos passos

O IECAM planeja expandir as áreas restauradas e aprofundar a integração entre reflorestamento, agroflorestas e segurança alimentar nos próximos anos.

Enquanto isso, a comunidade Tekoa Nhe’engatu aguarda os desdobramentos da disputa judicial e do projeto de lei, sustentando que preservação ambiental e permanência no território são causas inseparáveis.

Foto em destaque: Divulgação/IECAM

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Gabriel Gross
Gabriel Grosshttp://realnews.com.br
Estudante de Jornalismo e Ciências Sociais, em constante aprendizado e atualmente trabalhando na UFCSPA.
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