A Dupla Grenal está morta por dentro. O coração ainda bate, mas é por inércia histórica, não por paixão. Os símbolos ainda brilham nas camisas, mas só porque a torcida ainda insiste em brilhar por eles. Em campo? Um desfile de desinteresse, apatia e falta de vergonha.
Foram 30 dias entre folga e treinamentos. Uma eternidade para recondicionar, planejar, reorganizar e — acima de tudo — recuperar a fome. Mas os dois gigantes voltaram pequenos. Muito pequenos. Menores do que jamais se imaginou.
O Internacional conseguiu uma “vitória”. Coloque as aspas. Porque o que se viu no Beira-Rio contra o Vitória foi tudo, menos uma atuação digna. Um gol nos acréscimos, achado, chorado, suado — não por mérito, mas por misericórdia do acaso. A torcida merecia mais. Merecia pelo menos ver vontade. Mas nem isso. Enner Valencia parece carregar a camisa como se fosse um fardo. Um jogador de Copa, de quilate internacional, mas com alma de quem já fez check-out emocional. O problema não é técnico — é simbólico. Ele não quer mais estar ali. E o pior: não está sozinho nessa apatia.
O restante do elenco colorado está em transe. Um time zumbi. Um time que toca, recua, espera o relógio andar. Falta tesão. Falta honra. Falta brio. E antes que apontem para Roger Machado — parem. O técnico está tentando extrair água de pedra. Se pudesse, jogava. Se tivesse uma chance, pedia substituição e entrava no lugar de algum dos sonâmbulos em campo.
Do lado tricolor, o desastre é ainda mais cinematográfico. O Grêmio foi massacrado pelo Cruzeiro. Sim, massacrado. Vexame. Escárnio. Vergonha. Um time que joga por uma bola e, mesmo assim, não sabe o que fazer com ela quando tem. Arezo é promissor, mas já pediu para sair. Não quer mais estar em Porto Alegre. E não podemos culpá-lo: estar neste elenco hoje é sinônimo de estagnação.
O Grêmio tem um problema que vai além do gramado: é refém da nostalgia. Não sabe encerrar ciclos. Insiste em jogadores que já deram tudo que tinham — e o que restou neles hoje é só o peso do passado. A diretoria vive um transe romântico com medalhões que já não entregam. A torcida ainda aplaude quem há tempos não corre. E Mano Menezes, tal como Roger, virou refém do elenco que tem. Ele sabe. Ele já deixou claro. Mas está preso na cúpula da teimosia.
Ambos os clubes estão sendo engolidos pela nova ordem do futebol brasileiro. Hoje, não é mais suficiente ter “camisa pesada”. Quem não corre, não joga. Quem não morde, toma tapa. O futebol mudou — e a Dupla Grenal está parada no tempo.
E há, sim, exceções. Os garotos da base. Os únicos que ainda jogam com dignidade, porque sabem o que significa vestir essas cores. Porque ainda querem conquistar algo. Porque ainda não foram contaminados pela apatia institucional que parece ter virado cultura. Mas se continuarem nesse ambiente, serão contaminados também.
Hoje, Grêmio e Internacional são times com medo da bola. Medo de dividir. Medo de jogar. E acima de tudo, medo de perder — o que, ironicamente, os faz perder ainda mais.
Resumo da ópera trágica:
Onde mira a preguiça, reina o fracasso.
E hoje, em Porto Alegre, o fracasso está governando com mãos de veludo — e ninguém parece disposto a dar um soco na mesa.
Acordem. Ou a história de grandeza vai virar só isso: história.