Em mais um episódio de desinformação promovida por figuras públicas, o ex-procurador da Lava Jato e ex-deputado federal Deltan Dallagnol utilizou suas redes sociais para disseminar uma interpretação distorcida do voto do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento de Jair Bolsonaro e outros sete acusados de tentativa de golpe de Estado.
O caso está sendo analisado pela Primeira Turma do STF, e durante a sessão desta quarta-feira (9), Fux apresentou voto em que questiona a competência do Supremo para julgar os réus, propondo a anulação do processo. Sua posição, no entanto, já foi superada por outros ministros, configurando-se como voto vencido — o que significa que não há qualquer efeito prático ou jurídico imediato em sua manifestação.
Ignorando esse contexto, Dallagnol publicou um vídeo em sua conta no Instagram com o título alarmista: “URGENTE: FUX ANULA JULGAMENTO DE BOLSONARO”, gerando confusão entre seus seguidores e contribuindo para a propagação de uma informação falsa.
“Urgente: o ministro Luiz Fux acaba de anular a condenação e todos os atos do julgamento do Bolsonaro, dizendo que o Supremo não deveria estar julgando o Bolsonaro, não é o foro competente…”, afirma Dallagnol no início do vídeo, omitindo que se trata de um voto isolado e sem maioria.
Apenas após essa introdução sensacionalista, o ex-procurador faz uma ressalva de que o voto tende a ser vencido — informação apresentada de forma tardia, o que favorece a má interpretação do conteúdo. O título do vídeo e a forma como a fala foi conduzida serviram como combustível para que grupos bolsonaristas compartilhassem massivamente o material, alegando falsamente que o julgamento teria sido anulado.
A publicação rapidamente viralizou em canais da extrema direita e passou a ser usada como argumento para reforçar discursos antidemocráticos, mesmo sem qualquer respaldo jurídico que sustente a narrativa.
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Real News reforça:
A divergência de Fux, embora legítima no ambiente jurídico, não altera o curso do processo, já que o entendimento majoritário da Corte é de que o STF tem sim competência para julgar os envolvidos.
O uso distorcido dessa divergência para fomentar desinformação representa um risco concreto à integridade do debate público e contribui para a radicalização política nas redes.