O relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os eventos do dia 8 de janeiro foi apresentado nesta terça-feira pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA). O documento requer o indiciamento de 61 pessoas, incluindo figuras ligadas ao governo anterior. O ex-presidente Jair Bolsonaro encabeça a lista, que ainda engloba o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o ex-diretor da Polícia Federal Rodoviária (PRF) Silvinei Vasques, os ex-ministros Anderson Torres (Justiça), Walter Braga Netto (Defesa e Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional – GSI), Luis Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), além da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
O relatório também inclui o pedido de indiciamento do almirante Almir Ganrier, ex-comandantes da Marinha e do Exército, Marco Antônio Freire Gomes. Outro militar mencionado é o ex-ajudante de ordens Luís Marcos Reis. No entanto, alguns militares que foram ouvidos pela CPMI, como o general Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI, e o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, que chefiava o Comando Militar do Planalto em 8 de janeiro, não foram incluídos no relatório final.
Até o momento, as tentativas de contato com Bolsonaro, Braga Netto, Heleno, Torres, Freire Gomes, Cid e Zambelli não obtiveram resposta. Silvinei Vasques, por meio de sua assessoria, emitiu uma nota criticando a relatora, afirmando: “Acredito até que ela não sabe nem o que está lendo.” O Ministério da Defesa, o Exército e o GSI foram acionados, mas não emitiram declarações.
Segundo informações obtidas pelo EXTRA, Eliziane Gama deve apontar Bolsonaro como um dos principais responsáveis intelectuais dos atos antidemocráticos que tiveram início após o segundo turno das eleições de 2022 e culminaram no ataque aos prédios dos Três Poderes em Brasília no início deste ano.
Os demais ex-membros do governo Bolsonaro também são mencionados como autores intelectuais da tentativa de golpe. O general Heleno fazia parte do grupo de militares próximos ao ex-presidente.
Conforme revelado pelo EXTRA, Bolsonaro se reuniu no ano passado com a alta cúpula das Forças Armadas e ministros militares de seu governo para discutir detalhes de um plano que abriria a possibilidade de intervenção militar. Se implementado, tal plano de golpe teria impedido a transição de governo no Brasil. Essa informação chegou à atual chefia das Forças Armadas por meio de uma delação premiada de Mauro Cid.
Walter Braga Netto, atualmente sob investigação da Polícia Federal, é suspeito de atuar como elo entre o ex-presidente e integrantes de acampamentos pró-intervenção militar instalados em frente aos quartéis do Exército após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, Braga Netto não foi ouvido pela CPI.
Carla Zambelli também é mencionada no relatório, pois o hacker Walter Delgatti Neto afirmou em depoimento à Polícia Federal que recebeu R$ 40 mil de Zambelli para invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e emitir um mandado de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Segundo o hacker, ele foi contratado como parte de uma trama golpista que visava questionar o resultado das urnas eletrônicas.
A relatora sugere que as investigações sejam aprofundadas em relação a algumas autoridades que não foram alvo da CPMI, como o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Eliziane não pede seu indiciamento, mas recomenda que o Ministério Público apure sua eventual participação nos eventos.