Como ajudar pessoas autistas atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul

Em resposta às devastadoras enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, muitas famílias, incluindo aquelas com membros autistas, foram forçadas a evacuar suas casas e buscar refúgio em abrigos temporários. A mudança abrupta de ambiente e a intensificação de estímulos sensoriais como sirenes, ambulâncias e aeronaves podem ser particularmente desafiadoras para pessoas no espectro autista, levando a crises de estresse e ansiedade. Também, a presença de multidões estranhas, toques abruptos, necessidade de transporte aquático contribuem para a saturação sensorial.

Impactos das mudanças no ambiente

De acordo com Nara Effel, CEO do Instituto Maranatha Centro Multidisciplinar, especializado em autismo, “para indivíduos autistas, a mudança de rotina e o aumento dos estímulos podem desencadear uma variedade de respostas que podem ser para fora: o que chamamos de meltdown; ou para dentro: o shutdown.

Nara complementa: “o primeiro incluicrises de choro, gritos, comportamento agressivo e autoagressão, além de poder aumentar movimentos repetitivos e agitação psicomotora. Por outro lado, a sobrecarga pode gerar o “desligamento”, podendo ser identificado pelo isolamento, pouca expressão facial e ainda mais reduzido contato visual, baixa resposta aos estímulos e respirações irregulares”.

Estratégias de suporte em abrigos

“Sabemos que na situação em que estamos não é possível que os abrigos temporários estejam equipados para oferecer um ambiente acolhedor e adaptado às necessidades de pessoas autistas, mas algumas estratégias podem ser adotadas para ajudar nesse momento difícil”, relata Nara.

Estas estratégias incluem:

Criação de espaços tranquilos: se for possível, áreas reservadas e silenciosas onde indivíduos autistas possam se retirar para escapar do caos e do barulho excessivo;
Atividades estruturadas e lúdicas: implementação de atividades como contaçãode histórias, uso de argila ou massa de modelar, esconde-esconde e caça ao tesouro, jogos de mímica e imitação, além de brincadeiras que promovam interação social de maneira controlada e divertida.
Comunicação clara e visual: uso de pictogramas e outras ferramentas visuais para comunicar rotinas e regras do abrigo, ajudando a reduzir a ansiedade causada pela incerteza da rotina e pelo ambiente desconhecido e caótico.

Como ajudar

Nara Effel explica como é possível auxiliar: “a comunidade pode ajudar de várias maneiras, desde a doação de materiais sensoriais até o voluntariado em abrigos para realizar atividades dirigidas. Profissionais especializados em terapia ocupacional, psicologia e educação especial podem oferecer seu tempo e habilidades para organizar atividades e criar rotinas que ajudem a minimizar o impacto do ambiente no bem-estar de pessoas autistas.

Ainda conforme ela “vale ressaltar que não raramente as crianças apresentam seletividade ou recusa alimentar. São condições com uma grande variedade no impacto na vida das pessoas autistas, mas que podem se manifestar desde rigidez na apresentação do alimento até reações fisiológicas de luta ou fuga, aumentando o estresse.”

Nara reforça também não se tratar de situações de birra, mas de uma dificuldade de conseguir dar conta de todos os estressores psicossociais e ambientais. Desta forma, é fundamental dar atenção de maneira global às necessidades especiais da pessoa autista”, reforça.

As listas de abrigos estão nas redes sociais e sites das prefeituras municipais.

Instituto Maranatha Centro Multidisciplinar

O Instituto Maranatha Centro Multidisciplinar está localizado na cidade de Canoas, que foi fortemente atingida pelas enchentes que assolam o Rio Grande do Sul. A sede da instituição não foi atingida pelas águas e desde sexta-feira (3) está abrigando pessoas desalojadas, em função da tragédia no estado gaúcho.

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