Caleffi saiu do Grêmio, mas o Grêmio ainda vive nele. E não estou falando apenas da questão de amor pelo clube, pois é visível que o ex-Vice-Presidente de Futebol é um apaixonado pelo Tricolor, assim como todos nós. Mas eu me refiro às questões políticas. Aquelas que foram abruptamente interrompidas com a sua retirada do cargo por parte do Presidente Alberto Guerra, em 28/06.
Eu escrevi nas minhas redes em 29/06 os motivos que chegaram até mim e que teriam causado a sua queda. E para falar sobre eles, fui procurado pelo próprio Paulo Caleffi, fazendo uso do seu direito de contestação. Segundo ele, apenas agora havia lido minha matéria.
Ele nega que tenha tomado decisões próprias a respeito de Adriel, qualificando como “mentirosas” as minhas colocações. Nega também que tenha mentido sobre a questão de Suárez naquela entrevista, quando ele atacou a imprensa. Segundo ele, os motivos da sua queda seriam outros e teriam origem mais antiga. E sobre isso, no momento oportuno, ele o divulgará em voz alta.
Obviamente, na minha função de jornalista, fui atrás de maiores detalhes, seguindo rastros que foram deixados.
Conversa daqui, conversa dali, cheguei à fatídica data de 31/12/2022. Data esta em que a assinatura do contrato de Suárez foi lavrada. Eu já sabia (e havia falado na Rádio Real News) que havia acontecido um problema que quase inviabilizara a contratação do uruguaio. Mas não sabia do teor e gravidade da divergência entre o Presidente e o VPF acerca deste desfecho.
Aqui um bastidor importante. Perguntei a algumas pessoas de quem teria sido o começo da ideia de contratar Suárez. Quem teria acordado num belo dia de sol e dito em voz alta: “E se a gente contratasse Luisito Suárez?”
Pois bem, tudo começou com um empresário oferecendo o jogador ao então Diretor de Futebol Antônio Brum, atual Vice-Presidente de Futebol. Teria sido Brum quem “botou pilha” para a criação do Projeto Suárez. Definido que o clube iria tentar a contratação, Caleffi procurou o Staff do jogador e passou a negociar.
Tudo convergiu até o último dia do ano de 2022, quando a comitiva Tricolor, com Brum e Caleffi, foi até um hotel no Uruguai. Lá começou a explodir uma série de problemas em relação aos termos do contrato que estava por ser assinado. Suárez fez uma série de exigências que não estavam acordadas antes da viagem. Uma delas era o tempo de contrato. Suárez queria 2 anos e Guerra queria apenas 1 ano e não abria mão disso. Para Guerra, era preferível não assinar o contrato do que fazê-lo por um período que achava longo demais para um jogador tão caro, tendo dúvidas sobre o futuro sucesso da contratação.
Mas Caleffi não estava afim de voltar de mãos abanando. Milhares de torcedores acompanhavam o vôo da comitiva pela internet. Ele considerava que seria uma grande vergonha se isso acontecesse. Ele bateu o pé e conseguiu que, através de uma reunião do Conselho de Administração, fosse aprovada a contratação por 2 anos. Mesmo que Guerra seguisse contrário. E não somente essa, mas outras cláusulas que não eram tão favoráveis ao clube (às quais ainda não tive acesso), também foram aprovadas.
Contrato assinado, mas relacionamento afetado. Eu havia escrito na matéria de junho que Caleffi, Brum e Guerra são amigos há muito tempo, desde o Leopoldina Juvenil, e estavam juntos desde o início do projeto eleitoral que viria a se tornar vitorioso com a eleição de Beto. Mas, naquele 31/12/2022 a relação ficou abalada, mostrando que não fora uma simples divergência. Foi um combate de forças. A previsão de passarem a virada, todos juntos, comemorando as vitórias e os projetos vindouros, teve que ser alterada. E com sequelas que seguem até hoje.
Eu consigo ver razões dos dois lados. Teria sido, sim, uma grande vergonha se Caleffi tivesse voltado de mãos abanando. Carregaríamos um fardo eterno se Caleffi não tivesse insistido. E a sua atitude propiciou a maior assertividade política do Grêmio em muitos anos. Cada gremista sabe da importância que é ter Suárez conosco. E podemos dizer, hoje, que isso se deve a Brum e Caleffi. O primeiro, um visionário. O pai da ideia maluca. O segundo, o realizador. O parteiro! Lógico, há inúmeras outras pessoas entre o meio deste caminho todo, do contato do empresário até o desembarque vitorioso da comitiva.
E Guerra, que era contra o contrato de 2 anos, o que inviabilizaria o negócio, se mostrou certo naquilo que pensava. Hoje, com os recentes acontecimentos, tenho certeza de que em algum momento Beto se virou a alguém próximo e disse: “Viu, eu falei!” Afinal, era uma aposta verdadeiramente alta e ele o maior avalista. Ele tem a prerrogativa de tratar as coisas que envolvem nosso Tricolor com total responsabilidade.
Agora, cada um segue seu caminho, dentro e fora do clube. Guerra segue com a aprovação do torcedor, reiterada pela renovação do contrato do ídolo Kannemann. E Caleffi com uma agenda paralela quase política. O ex-Vice-Presidente de Futebol não se priva de seguir falando do Grêmio em suas redes. Em suas postagens, cita e marca funcionários do clube, deseja boa sorte ao elenco e repercute os resultados. Na derrota contra o Vasco, subiu o tom, cobrando que nessas horas a direção precisa falar, blindando atletas e treinador. Recentemente, em um vídeo divulgado pelo Consulado de Cruz Alta, Caleffi anunciava sua presença na festa do dia 18/08, convocando a torcida. A sua presença em evento consular não caiu bem no núcleo da direção, que entendeu como uma ação política do ex-dirigente, motivando algumas movimentações da direção nos bastidores consulares.
Mas o que importa nisso tudo é que as coisas aconteceram de bom agrado para o Grêmio. Suárez foi mais que uma cereja do bolo. Suárez é o resgate do orgulho vitorioso da nossa torcida. Mas teve um alto custo para a relação destes três gremistas importantes. E nós, meros torcedores, agradecemos o empenho de cada um em fazer o que acham melhor para o nosso Tricolor. E que, seja qual for a atitude de cada um, não respingue nas três cores.
O tempo será sempre o senhor da razão.