Cadeiradas e queimadas

Qual seria o nexo entre as cadeiradas que Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, deu em seu oponente, Luiz Datena (PSDB), no debate da TV Cultura, e as queimadas?

Foi uma pergunta típica de analista, livre-associativa, instigando o leitor a refletir sobre o que se passa em seu inconsciente. Primeiramente, vejo a necessidade de observar as posições subjetivas dos envolvidos e como lidam com palavras e atos.

Marçal, o “ex-coach”, se posiciona, assumidamente, como alguém capaz de desestabilizar psicologicamente seus adversários. Essa foi sua estratégia contra Datena, provocando-o à agressão e acusando-o de estuprador (algo inadmissível para quem pretende ser gestor público, especialmente sem uma conclusão processual).

No entanto, segundo *O Estadão*, Datena teve o processo arquivado, não sendo inocentado por falta de provas, mas por a denúncia ter sido feita seis meses após o ocorrido, conforme a legislação vigente na época. Luiz Datena é conhecido como o protótipo do “jornalismo investigativo” sensacionalista, que explora a violência e o sangue, bem alinhado ao bolsonarismo.

Mas o que o embate entre eles tem a ver com as queimadas? Faço a associação de maneira metonímica, pois São Paulo é um dos epicentros de incêndios criminosos. A poluição advém de mentes enfumaçadas pelo ódio, pela destruição e pelo descaso com a vida. A natureza também responde a essas ações.

Além disso, a falta de civilidade entre os dois reflete a situação de um estado que atualmente ocupa o 21º lugar na alfabetização na idade adequada.

Se Datena, com alta rejeição, comete crimes comuns, e Marçal pratica calúnia e difamação, o eleitor, ao votar, pode escolher não ser cúmplice de candidatos destemperados, ambos estagnados em 6% e 19%, respectivamente, segundo o Datafolha.

Guilherme Boulos, uma alternativa educada e firme para São Paulo, ressalta que o estado necessita de uma revolução educacional, com valorização dos professores e acolhimento dos estudantes, incluindo a presença de psicólogos nas escolas. Essa é uma proposta que deveria ser adotada pelo Brasil, em oposição ao negacionismo da educação ambiental!

A educação é um processo amplo e estrutural, que começa em casa e exige políticas públicas consistentes. Esse processo é demorado. Enquanto isso, as queimadas, tanto reais quanto subjetivas, precisam ser contidas por leis rigorosas. O crime ambiental vem sendo debatido como hediondo, e o governo criou uma autoridade climática para atuar com o Ministério do Meio Ambiente. O tema estará em pauta na conferência da ONU, com Lula admitindo o despreparo do país.

Numa interpretação clássica de sonho, Freud relata o caso de um pai que sonha com seu filho dizendo: “Pai, não vês que estou queimando?”. O corpo do filho, velado ao lado, estava realmente queimando. O superego do pai, tomado pela culpa, realizava o desejo de se punir pelo descuido. Nesta analogia, podemos torcer para que o eleitor não se queime ao escolher “incendiários” do meio ambiente e da educação.

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Gaio Fontella
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Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista e produtor do “Café com Análise”, no Youtube.

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