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Balanço das repetições na eleição

 

 

A autocrítica é sempre esperada de quem perde uma competição, especialmente em um evento que define os rumos de uma comunidade que busca se reconstruir após uma das maiores tragédias político-ambientais. Estratégias, lideranças, campanhas e comunicação estão sendo cuidadosamente reavaliadas. Trago a psicanálise em extensão para contribuir com essas reflexões.

Os fatores mencionados vêm sendo considerados pela esquerda consciente, que sofreu uma queda significativa nos resultados nacionais, enquanto a centro-direita ganhou espaço.

Ao avaliarmos a candidatura de Maria do Rosário, é essencial reconhecer suas qualidades como defensora dos direitos humanos. Ela tem sido injustamente rotulada por fake news como “defensora de criminosos” enquanto ocupava um ministério, e o machismo ainda influencia muito as escolhas políticas, como na disputa para a prefeitura. Não podemos ignorar que Maria do Rosário já foi eleita vereadora, deputada estadual e federal.

Importante também lembrar que o ambiente misógino foi responsável por arquitetar o golpe contra Dilma, aliado à retórica do bolsonarismo em “combater a corrupção do PT”. E um erro que pagamos caro foi a tentativa de desarticular resistências e desafiar preconceitos, como com a candidatura da vice Tamyres, mulher e negra, em um estado historicamente racista.

Não devemos recorrer às armas de mentiras dos adversários, mas precisamos aprender com sua habilidade de comunicação e sua capacidade de marcar presença entre as bases.

Como psicanalista, não estou tratando de um indivíduo específico, mas sim de uma comunidade de eleitores e seu comportamento coletivo. Freud, em 1921, discutiu o tema em seu texto Psicologia das Massas e Análise do Ego, postulando que grupos anseiam por proteção e visibilidade por parte de seus líderes, o que gera uma conexão direta e palpável.

A repetição de sintomas que nos fazem sofrer, um prazer inconsciente que não identificamos, foi algo que Freud observou e que Lacan chamou de gozo-sofrimento. Quando uma comunidade atingida reelege quem não a protegeu e falhou em corrigir seus próprios erros, mesmo que por gratidão, trata-se exatamente disso.

Entre as repetições mais impactantes, está o avanço da abstenção no Brasil, que aqui chegou a quase 35%. O que isso nos diz? Que ainda há esperança de mudança, e não devemos nos abater com a derrota. Além disso, é preciso lembrar que o prefeito não foi reeleito pela maioria absoluta da população de Porto Alegre.

Os votos nulos, brancos e as abstenções colocam a alternativa de esquerda no mesmo pacote, sem levar em conta questões objetivas e subjetivas apontadas aqui. No mínimo, para aqueles que mantêm um princípio de realidade, a oportunidade deveria ter sido dada a uma gestão comprometida em evitar a venda indiscriminada de patrimônio público e a corrupção que trouxe luto à população.

Enquanto esquerda, devemos reconhecer as conquistas diárias da habilidade de Lula em governar com uma frente democrática. E, para conter o avanço da extrema direita, é crucial trabalharmos em articulação com o centro político.

 

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Gaio Fontella
Gaio Fontellahttps://realnews.com.br/category/opiniao/blog-do-gaio/
Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista e produtor do “Café com Análise”, no Youtube.
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