As ruas revelam o pior e o melhor da nossa cultura e do comportamento humano — sem Inteligência Artificial, sem edição, sem recursos que maquiem mentiras ou “podres poderes”.
No último domingo, o povo voltou às ruas em todo o país para dizer não à anistia de Bolsonaro e de seus cúmplices golpistas — contra a blindagem de uma bandidagem que, sem escrúpulos, busca consolidar impunidades com a parceria do crime organizado.
Nos espaços públicos, já vivemos momentos decisivos da nossa história, em que uma correlação democrática de forças derrubou a Ditadura — como a Passeata dos Cem Mil, em 26 de junho de 1968, no Rio de Janeiro —, consolidou a Constituição e levou ao impeachment de Collor.
O povo unido, com palavra firme e bandeiras libertárias, contrasta com um Congresso que, sem pudor, almeja ver seus crimes encobertos e bandidos anistiados. A força popular nas principais capitais repercutiu: por unanimidade, o Senado sepultou a PEC da impunidade.
É lindo ver, nessa luta, como disse o poeta e dramaturgo Bertolt Brecht, “os que lutam a vida inteira e são os imprescindíveis”: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Djavan e tantos artistas. A arte não combina com mentiras, crimes e interesses espúrios de aliados à extrema-direita trumpista, cujo tarifaço inclusive prejudica a própria burguesia nacional.
Nas mesmas ruas em que hoje buscamos justiça e garantias democráticas, nossa bandeira — agora resgatada — foi, na história recente, sequestrada e atrelada ao bolsonarismo. Um golpe atrás do outro foi se articulando na esteira do impeachment de Dilma, favorecendo a ascensão da direita, nutrida por fake news e pelo escândalo do mensalão, e elegendo o “Mito” cruel que pouco pagou por racismo, misoginia, homofobia e outros atentados aos direitos humanos, além do deboche e do descaso na pandemia de Covid-19.
São essas ruas que devem ter ocupação permanente, mostrando que desejamos a verdade num ano pré-eleitoral. O momento é balizador para escolhas nas urnas — sem repetir, ainda que haja arrependimento, pactos com a bandidagem, nem delegar a “12 apóstolos petistas” responsabilidades que não respondem nem pelo governo nem pela esquerda do país.
Defender blindagens criminosas não se justifica por “negociar com o centrão” em nome da governabilidade — erro antigo que não combina com a firmeza de Lula na defesa da democracia, quando enfrenta ataques externos, como o tarifaço de Trump.
A esses, fica o recado oportuno: quando nosso presidente, na ONU, trouxe autocrítica aos democratas e à esquerda — perguntando o que fizemos para a extrema-direita crescer e o que podemos fazer para defender e difundir a democracia —, abriu-se um caminho.
As dúvidas de Lula são salutares: certezas rígidas lembram a megalomania ou a fixidez de um gozo perverso que subjuga o outro. Se precisamos de certezas, que sejam estas: aposta na soberania nacional — não barganhada pelos interesses americanos em química, aço, terras raras e petróleo — e nenhuma anistia ao bandido-chefe. Para isso, devemos ocupar permanentemente os melhores palcos das lutas libertárias, herdeiros da democracia grega: as ruas, a céu aberto.