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As dúvidas sobre as dúvidas

Duvidar faz parte da psicologia humana, da busca de conhecimentos e reflexões que podem melhorar relações, escolhas e debates em todos os setores da vida individual e psicossocial.

Quando Freud nos diz que a pulsão de saber começa pelas perguntas infantis “de onde vêm os bebês”, nisso está implícita a dúvida. Assim como na pesquisa científica, nas teses, hipóteses e sínteses, que também passam, por exemplo, pelo “falseamento popperiano”, que pressupõe dúvida, pois não se aguarda o que se nega com a possibilidade de comprovações.

Nesta semana, como tenho muitas dúvidas nas manifestações políticas que implicam na economia, fiquei reflexivo com uma fala de nosso presidente. Lula, mais uma vez, traz a dúvida do cumprimento da meta fiscal, pontuando a relevância de crescimento econômico, empregos e salários.

Embora essa manifestação deixe Fernando Haddad numa “saia justa” e abale o mercado financeiro, fico na dúvida se não expor essa equação e deixar tudo oculto não resultaria em consequências que também são perigosas.

Haddad, porém, não cedeu às dúvidas: buscando evitar especulações, antecipou o bloqueio de R$ 11,2 bilhões para as despesas em 2024 do arcabouço fiscal. Eu, leigo, sigo no benefício da dúvida sem acusação ou defesa, por ser uma área que não domino. Deixo para o amigo economista e nosso colaborador do RealNews, Ricardo Azambuja, essa pauta.

Na perspectiva estruturalista e psicopatológica das psicanálises, a dúvida é sintoma balizador para se escutar, fazer hipóteses diagnósticas na direção do tratamento.

A dúvida é um sintoma típico dos neuróticos, divididos como sujeitos desejantes pela influência e identificações com o Outro paternal. Minimizar o excesso e clarear o próprio desejo é algo que se aposta no processo analítico, na “travessia do fantasma”, como diria Lacan.

Quanto ao sujeito na perversão, este nega a lei, a castração, ostentando uma verdade para seduzir e mostrar ao outro como gozar, dentro de seu próprio gozo, objetalizando e manipulando, seja no campo pessoal ou individual. Estes não costumam buscar análise ou terapias, por não terem demandas com suas certezas.

Na psicose, temos sujeitos alienados ao desejo do Outro. A falta de dúvidas nessa estrutura sustenta delírios e alucinações. Na escuta, na intervenção, nós, analistas, acolhemos essa forma de lidar com a falta de castração e o que pode ser feito para melhorias e socialização, com foco no Real e imaginário, sem interpretações simbólicas.

Em tempo: não tenho dúvidas da potência do movimento LGBTQIAPN+ e de importantes ações que estão focadas em 2024 para mitigar os sofrimentos de nossa comunidade com o desastre político-ambiental. Estamos elaborando uma carta ao ministro da Reconstrução, Paulo Pimenta.

Para isso, contamos com alinhamentos de ações e eventos com a garra dos militantes e dos simpatizantes: a segunda edição da Feira Baile da Diversidade será dia 25 de agosto, na Praça Brigadeiro Sampaio. A Parada de Luta, a terceira do país, será em primeiro de setembro, concentrada na Redenção.

Conosco, os apoiadores: Departamento da Diversidade Sexual do RS, Coordenadoria da Diversidade Sexual da Prefeitura de Porto Alegre, Prefeitura de Porto Alegre (SMC/ Descentralização, SMGOV, SMDT), Amigos da Brigadeiro Sampaio, Orçamento Participativo, FESTURIS, Mythago Produções.

 

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Gaio Fontella
Gaio Fontellahttps://realnews.com.br/category/opiniao/blog-do-gaio/
Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista e produtor do “Café com Análise”, no Youtube.
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