spot_img

Apoio psicológico na tragédia das cheias no RS

O que há de mais grandioso nesta tragédia gaúcha é a revelação de uma empatia e solidariedade que busca atender às demandas imediatas de abrigo, alimentação e saúde do corpo. As demandas psicológicas nunca podem estar dissociadas dessas ações e estão crescendo.

Pegando o referencial da psicologia humanista: a base da pirâmide de Maslow são as necessidades básicas, pois nenhum ser consegue ser muito volitivo estando desabrigado, com fome, sede e sujeito a violências de toda ordem nesta tragédia.

Considerando que a ajuda material vem de todos os lados, que o governo federal tem feito muito e vai conceder às famílias desamparadas apoio de 5 mil reais, e o estado, 2 mil, acredito que temos um cabedal que até beneficiará a economia em crise.

Porém, os traumas e lutos são violentos. Uma pessoa sem problemas psicopatológicos graves pode surtar com grande pressão, portanto, quem já tem um adoecimento maior fica muito mais vulnerável.

Temos que considerar no voluntariado questões importantes nos transtornos e o manejo de cada caso: autistas, por exemplo, não suportam mudança na rotina. Psicóticos tendem a ser errantes e não se adequar à albergagem.

Oportunamente neste 17 de maio de combate à LGBT fobia, a comunidade LGBT+, que frequentemente sofre preconceitos, agressões e morte, está sendo hostilizada. Existe uma demanda por casas de acolhimento específicas. Porém, a demanda por moradia provisória é imensa, e convívios com a heteronormatividade, com ou sem homo/transfobia, são inevitáveis. Para isso, precisamos contar com segurança e trabalho intersetorial e interdisciplinar.

Nos locais de apoio, estão ocorrendo crises e conflitos, abusos, estupros e revoltas com os próprios voluntários que resgataram ou dão assistência. Por tudo isso, a política pública deve dar uma resposta aos sofrimentos de todas as pontas.

As questões emocionais são variadas, com suas singularidades. Quem não quis sair de casa merece um trabalho redutor de danos, mesmo online. Dar voz a essa decisão, que é de risco. O cavalo caramelo deu a lição que, para nós, em qualquer posição, é quase impossível: temperança, paciência, deixar-se salvar, sem pinotes!

E os pets tiveram como nunca uma visibilidade do lugar que ocupam: filhos adotados que muito amam e são amados, e que ainda são terapêuticos.

Com a volta do sol, resgatamos a esperança. As memórias do que somos não mergulham, e os desejos também.

Ainda é tempo de reconhecermos o que o descaso trouxe de desamparo e imprevidência de todas as esferas. Na urna, teremos a oportunidade de escolher quem é pelo meio ambiente, pró-vida.

spot_img
Gaio Fontella
Gaio Fontellahttps://realnews.com.br/category/opiniao/blog-do-gaio/
Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista e produtor do “Café com Análise”, no Youtube.
- Conteúdo Pago -spot_img