Neste Abril Laranja, mês de conscientização e combate à crueldade contra os animais, achei pertinente agregar algo contrastivo: o amor e os cuidados mútuos entre nós, humanos, e eles. Meu espírito franciscano é profundamente amoroso com todos os animais — em especial com os domésticos, com os quais temos um exercício de afeto permanente.
Tenho um neto “catioro”, um Shih-tzu chamado Tikili. A guarda compartilhada me permite um vínculo lindo com esse bichinho. Ele foi meu grande parceiro no isolamento pandêmico, permitindo-me socializar com muitas pessoas no Centro Histórico de Porto Alegre, nas idas ao cachorródromo e às praças.
Sempre digo que foi com o Tikilizinho que cheguei a ser o idealizador e produtor da Feira Baile da Diversidade, na Brigadeiro Sampaio — agora na terceira edição, no dia 8 de junho. Nos passeios, conhecemos a prefeita da Praça, Marivane Anhanha Rogério. Daí veio a parceria, que segue firme e crescente. Nas redes, o Tikili virou quase um influencer, numa caricatura de série: “O Vovô e o Catiorinho”.
Então, um dia, surgiu outro personagem que veio das ruas, num pedido da minha sobrinha Marina: o gatinho Chiquinho. Ele, com cerca de um ano, chegou esquálido, portador da FIV, correndo risco de vida se não fosse meticulosamente tratado. Da estada provisória, adotamo-nos. Hoje, ele é meu filho peludo — lindo, comunicativo e amoroso.
Porém, no primeiro encontro, Tikili “stalkeou” o gatinho. A luta foi grande. Consegui harmonizar a dupla com separação, doutrinações e muita paciência. Agora, amam-se. Chiquinho acha que o rabo do catioro é um brinquedinho e abusa. Eles brincam e até se dão selinho.
O que a psicanálise me diz desses afetos e da comunicação? Segundo Lacan, os pets estão inseridos numa linguagem própria. Identificam-se com seus donos, imaginariamente. (Ao longo do convívio, isso é muito observável.)
E eu me acho pai do gatinho e avô do cachorrinho — não tutor. A forma como simbolizo meus afetos é singular. E quem é “cringe” como seus pets, como eu, entende. Com Tikili e Chiquinho, vivo uma fábula de amor correspondido, sem medo, com harmonia, humor e comunicação.
O bem que nossos peludos nos fazem é experienciado por quem os ama e sabe cuidar — sendo também cuidado. Freud era cachorreiro e dizia amar os cães por não terem a crueldade humana.
A crueldade dos perversos com os pets é típica de uma estrutura que goza ao maltratar, numa fixidez sádica que não permite a generosidade mútua e saudável que poderia ser vivida. Para isso, existe uma resposta: a lei, que contenha.
Os maus-tratos contra os animais ferem também quem os ama — que por eles é beneficiado em socialização, humor e saúde. Que isso tudo seja um foco importante neste Abril Laranja.