No dia 30 de novembro, uma cena brutal ganhou destaque: um jovem de 19 anos, autista, morreu após entrar na jaula de uma leoa. O caso me apavorou na época, mas, depois de ontem, passei a enxergar outros sentidos por trás dessa tragédia. Testemunhas relataram que o rapaz vivia sem o tratamento adequado e sem o suporte familiar e institucional que qualquer pessoa com um transtorno neurológico deveria ter garantido.
Enquanto nos aproximamos do fim do ano, especialistas em saúde mental do SUS reforçam a importância de atenção redobrada. Pouca gente sabe, mas as festas de Natal e Ano-Novo concentram um aumento significativo de episódios de sofrimento emocional intenso — inclusive tentativas de suicídio. Por isso, deixo aqui um apelo aos pais e familiares: não pratiquem bullying, não abandonem e não deixem sozinhas as pessoas da família que têm algum transtorno neurológico.
Nessa época, mais do que nunca, é essencial que essas pessoas saibam que têm apoio, acolhimento e liberdade para aproveitar o fim do ano sem medo, sem culpa e sem pensamentos autodestrutivos. A história desse jovem de 19 anos — independentemente das conclusões oficiais sobre o caso — evidencia um quadro claro de vulnerabilidade. As próprias testemunhas descrevem sinais de sofrimento profundo.
E, nesse episódio, a leoa não teve culpa. Ela apenas reagiu como um animal cercado faria. Não sabemos o que ela enfrenta dentro da jaula — mas sabemos, sim, o que muitas pessoas com transtornos neurológicos enfrentam na vida: uma espécie de jaula invisível, feita de preconceito, abandono e falta de assistência.
Muita gente enxerga pessoas neurodivergentes como um problema, ou até como monstros. Só quem vive isso — ou quem convive de verdade — entende o tamanho dessa violência silenciosa. E é justamente contra essa violência que precisamos lutar.
O menino que morava em João Pessoa foi identificado como Gerson de Melo Machado, conhecido como “Vaqueirinho”. Morreu após invadir o recinto da leoa no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, popularmente conhecido como Bica.
O Ataque Fatal
Segundo as autoridades, o jovem, que sofria de transtornos mentais e tinha um histórico de esquizofrenia, teria escalado uma parede de mais de 6 metros, ultrapassado grades de segurança e usado o tronco de uma árvore para acessar a área interna onde estava a leoa, chamada Leona, uma fêmea de 19 anos.
A Polícia Civil e a administração do Parque informaram que o ataque foi imediato e fulminante. O jovem não teve chance de defesa e morreu no local devido à gravidade dos ferimentos causados pela felina.
Investigação e Medidas de Segurança
A Polícia Civil da Paraíba abriu imediatamente uma investigação para apurar as circunstâncias da invasão. Paralelamente, o Ministério Público da Paraíba (MPPB) instaurou um procedimento para acompanhar as ações da Prefeitura, solicitando um prazo de 15 dias para que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam) detalhe as providências adotadas, incluindo vistorias e o reforço na segurança dos recintos.
O Parque da Bica foi interditado logo após o ocorrido para a remoção do corpo e os trabalhos de perícia, e permanece fechado para visitação por tempo indeterminado, aguardando o fim dos procedimentos oficiais.
Situação da Leoa
A leoa Leona, envolvida no ataque, foi recolhida ao seu espaço sem a necessidade de tranquilizantes e está sob acompanhamento de uma equipe de veterinários e biólogos. A administração do Parque garantiu que o animal não será sacrificado, visto que agiu conforme o seu instinto em reação a uma invasão de seu território.
O caso levanta um alerta sobre a segurança dos parques e a gestão dos recintos de animais selvagens, além de expor a fragilidade no acompanhamento e tratamento de pessoas com transtornos mentais, uma vez que a vítima possuía decisões judiciais recentes que determinavam sua internação.



