Escutar o sofrimento psíquico na direção e perspectiva da cura requer uma conduta ética e um preparo profissional sério. A psicanálise tem pilares indissociáveis para este propósito.
O psicanalista “se autoriza por si só”, como dizia Lacan, que resgatou o trabalho de Freud com bases e conceitos fundamentais. Porém, como dizemos popularmente, “é preciso ter bala na agulha”. Isso inclui, além do reconhecimento dos pares, um tripé indispensável: análise pessoal, estudo e supervisão (que Lacan conceituou como “superaudição”).
A análise pessoal do analista facilita, na transferência, que aquilo que pertence ao paciente (e ao próprio analista) não interfira no trabalho, pois está ressignificado. Particularmente, adotei a prática meditativa, que me ajuda a manter um estado de esvaziamento e uma atenção flutuante mais apurada. Isso me permite pontuar o que é significante, auxiliando o analisando a construir sua narrativa, percebendo suas divisões e, gradualmente, tornando-se senhor de seu desejo.
Existe um mito de que o lacaniano sempre “fica com cara de paisagem”. Contudo, como Lacan dizia, nada nos impede de interpretar quando a transferência permite. Nessas situações, o suporte de um supervisor é fundamental, especialmente em casos de dificuldade, como no diagnóstico diferencial entre neurose e psicose, que possuem manejos e intervenções clínicas próprias.
O estudo é uma tarefa permanente que renova nossa prática, conectando os conceitos com a singularidade de cada caso, sem fórmulas prontas. Os fundamentos se refletem na escuta, que aposta na narrativa que revela “o inconsciente estruturado como uma linguagem”, conforme Lacan conceituou.
As pessoas que se analisam ganham um patrimônio valioso: a apropriação de seu desejo. Embora este permaneça insatisfeito, é possível fazer algo com as faltas, desenvolvendo uma relação diferenciada com a linguagem.
Sou psicanalista no movimento da diversidade e, por isso, frequentemente me perguntam se um LGBT+ escuta melhor os demais. Acredito que sim, desde que esteja em dia com o tripé da psicanálise aqui apresentado. Esse tema será abordado em minha palestra sobre saúde mental no 4º Fórum da Diversidade, promovido pela ONG Desafios, em Santa Cruz, na UNSC, no dia 10 de dezembro.
A saúde mental é um ponto de pauta importante neste evento, que tenho a honra e a paixão de ativista em coordenar:
DEBATE ABERTO – SOS RS DIVERSIDADE:
Políticas Públicas LGBT+ e Catástrofe Político-Ambiental
Com Emanuel Hassen, Secretário da Reconstrução.
Data: 18/12/2024, às 19h.
Local: Espaço Convergência da Assembleia Legislativa do RS.
Iniciativa: GT de coletivos nacionais e internacionais.
Em tempo: estaremos divulgando o encontro neste domingo, na Parada Livre, no Parque da Redenção.