Tratar desta guerra crônica entre Israel e Palestina, que não se restringe a um conflito étnico-religioso, mas também de classes, é tarefa complexa. Para não ser deturpado, deixo claro que abomino toda ação terrorista e que o Hamas não me representa, tampouco o povo Palestino.
Na grande mídia, a tendência é pesar um vínculo entre os palestinos com o terrorismo, no justo e empático repúdio aos ataques mortíferos aos civis israelenses e turistas.
Dicotomizar a luta palestina e quem a defende como antissemitismo, ou as demandas dos israelenses, seja por espaço ou repúdio ao terrorismo, como sionismo propriamente dito, não traz clareza, nem pacifica. Faz coro com o fomento aos interesses americanos que defendem somente Israel, ou com a Rússia, que se posiciona na defesa palestina e apoio ao Hamas.
Os teóricos na defesa da causa praticamente transformaram o sionismo em sinônimo de ser judeu. Não é bem assim: tanto que os Safatistas, mais de 50% da população, são judeus árabes e orientais, oprimidos, colonizados, cujas crianças não podem estudar suas origens.
Mesmo não sendo especialista no assunto, a lógica na luta pela paz é pensar que o sionismo surge buscando um lugar para a errância histórica dos Judeus, sem esquecer os horrores sofridos no Holocausto nazista.
Muitos palestinos ainda acham que os tratados de paz não foram favoráveis a eles, visto que 60% da Cisjordânia continuou com Israel. Porém, a morte de Yasser Arafat gerou uma crise de liderança pacificadora no conflito. (Arafat estabeleceu a independência Palestina em 1958 e reconheceu o estado de Israel em 1993. O Nobel da Paz nunca foi aliado do Hamas, tampouco do Hezbollah!)
Embora tenha muitos amigos judeus e nenhum palestino, procuro, aqui, ponderar o que deve ser esclarecido na mídia e nas redes sociais, sem estigmatizar nenhum dos lados de forma pejorativa e generalizada. Um olhar psicanalítico contribui, trazendo os aspectos subjetivos.
Quando Freud atribuiu à pulsão de morte como motor das guerras e suas repetições, os marxistas gritaram, dizendo que não dava para esquecer a luta de classes. (Não sou antissemita ao lembrar que a grande maioria pobre é palestina).
O gozo perverso com o poder e garantias de privilégios de classe estão nas grandes guerras e nas opressões diárias que aterrorizam os menos favorecidos em toda parte. Isso cruza com o que Freud postulou: fazem parte da natureza a pulsão de vida e de morte, mas esta, atravessada pela cultura, seu mal-estar e interesses referidos, segue repetitiva historicamente.
Não basta um apelo para que isso acabe. No entanto, a sabedoria que ajuda a não dar mais “pólvora” para a beligerância de ambos os lados é fundamental na proposição de um mundo pacificado, com garantias dignas de moradia e vida para os povos em conflito, com autodeterminação.
Ouso, pelo viés lacaniano, associar “Sionismo” à demanda também de um lugar, uma “terra prometida”, que seja legítima para o povo judeu. Porém, o “ismo” foi ficando pejorativo pela ganância que rima com expansionismo, permanente ameaça, opressão e interferência no viver dos encurralados e aterrorizados Palestinos na faixa de Gaza e nos 40% da Cisjordânia.
Na “carona” freudiana, aposto na vitória da pulsão de vida, abraçando a paz sustentada pela pulsão de saber, esclarecimento, que não faça trincheira com justificativas mantenedoras de um terrorismo de todos os lados e os lucros dos aliados poderosos.