Em razão do dia 23 de setembro, Dia Internacional da Visibilidade Bissexual, instituído pelos ativistas americanos Wendy Curry, Michael Page e Gigi Raven Wilbur, trago algumas reflexões sobre o conceito, preconceitos e visão psicanalítica.
É importante compreendermos o lugar do “B” na sigla LGBTQIAPN+, considerando a sexualidade humana de maneira multifacetada, diante dos arranjos entre gênero e orientação sexual.
Ainda hoje, encontramos, até mesmo dentro do meio da diversidade, preconceitos que veem a bissexualidade como “não resolvida” ou “enrustida”, ou que tentam quantificar o desejo binário pelos dois gêneros em uma proporção exata de 50% para cada lado.
Existem interpretações que equiparam a bissexualidade à pansexualidade, mas esta última não é binária, pois os “pans” se atraem por todas as pessoas, independentemente de gênero ou orientação sexual.
Talvez possamos pensar em uma concepção mais ampla da bissexualidade na contemporaneidade: que permita, por exemplo, que pessoas trans, masculinas ou femininas, sintam atração por ambos os gêneros.
E quanto às pessoas que se orientam homoafetivamente, mas sentem atração pelo gênero oposto? Elas podem se identificar como bi, enquanto gênero? Ainda há heterossexuais que eventualmente se sentem atraídos por pessoas do mesmo gênero, e isso não significa necessariamente que estão “no armário”.
Freud, em 1921, rompeu com a visão biologicista de Fliess, que trazia a ideia de um inatismo da bissexualidade, fundamentada no fato de sermos gerados por um homem e uma mulher. A visão freudiana destacou a relevância da subjetividade e dos processos de identificação parental, passando pela resolução do complexo de Édipo. Este, ao se reatualizar na adolescência, no desenvolvimento psicossexual, ajuda a entender por que, nessa fase, os sujeitos fazem experimentações que clareiam seus desejos.
É fundamental que possamos recorrer à perspectiva psicanalítica e à sua ênfase na fala, na singularidade com que cada pessoa se percebe, seja como bi ou em qualquer outra letra da sigla, que devem ser vistas não como rótulos incômodos, mas sim como expressões da sexualidade e dos desejos de cada sujeito. Fazer análise pode ajudar nessa clareza.
Convite: Participe da live sobre o tema, no “Mentes Coloridas”, neste sábado, às 14h30, com mediação de Helouise Leroy e eu, no YouTube.