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Alagamentos, voluntariado e recomeços

Passado a grande tragédia e susto, questionado sobre minha opinião do ocorrido em Canoas e o voluntariado, volto a fazer algumas considerações sobre o tema da crise dos alagamentos que atingiu o Estado. Iniciamos citando a pertinente frase do filósofo, “A natureza não nos permitiu conhecer o limite das coisas. Cícero”.

As águas que permitem a manutenção da vida, tem causado inúmeros transtornos e tristezas para o povo do sul, o caos e prejuízos materiais e psicológicos, fizeram todos entender da pior forma que a natureza não tem limites. As chuvas e demais fenômenos naturais são os assuntos em qualquer roda de conversa em inúmeras cidades do Estado. Em Canoas, a imagem surreal do maior bairro da cidade coberto pela água fará parte da herança histórica para as próximas gerações, que resgataram as imagens e contos de pais e avós que vivenciaram o momento marcante. 

As chuvas tem causado alagamentos e prejuízos no RS.

O fato histórico nos gerou muitos personagens que igualmente estão marcados como aqueles que contribuíram ou não para a situação, seja pessoas públicas com dever de fazer ou autônomos e voluntários que atenderam um princípio natural do ser humano, a fraternidade, amparo e socorro ao mais frágil. 

Passado a pior fase do alagamento – assim esperamos – temos o mix de sentimentos, a população além das lágrimas, tristeza e dúvidas, alimentam um sentimento de revolta, pois por mais que tenha ocorrido um fenômeno da natureza, acredite há culpados. Não me refiro a situação envolvendo o macro debate sobre o aquecimento global ou consequências do El Niño e La Niña, me refiro especificamente na gestão pública, que deveria ter ações e melhores preparados, mais ágeis, ou no mínimo menos arrogantes, a final assistimos durante o início dos eventos uma verdadeira  exposição de vaidades e autopromoção, que em poucos horas virou um desastre que todos conhecemos e alguns vivenciaram (…). 

 

Sentimentos e voluntariados

O sentimento de tristeza e desolação das pessoas que perderam seus bens e alguns o bem maior, é tão grande quanto o sentimento de repúdio àqueles que distorcem a realidade para se promover diante do caos. 

Bairro Mathias Velho foi um dos mais atingidos, causando prejuízos e perdas .

O oportunismo de agentes públicos e postulantes a políticos, ou mesmo os atuais políticos que circulam a cidade com suas equipes de mídia, em um falso voluntariado, ou fazendo projeções e promessas como as falácias de setembro 2023, para as pessoas do vale do Taquari, que não receberam o prometido, até hoje, sobretudo do governo federal, isso é realmente relevante. 

A revolta – opinião – é somada com muitos Canoenses, que assistem seus gestores, vereadores e políticos locais, insistindo em criar conteúdos como salvadores e heróis de um espólio de tristeza das pessoas, que sem opção somente assistem os “líderes” fazer perguntas e colocações absurdas sobre uma situação evidente – Essa é a qualidade de uma geração de políticos viciados em deixar pessoas refém de suas imagens, usando da estrutura publica para manter um frágil eleitorado.   

Por outro lado, o que se assistiu na vida real, fora das redes sociais e grupos fechados de apoiadores e admiradores comissionados dos camaristas, surgem os voluntários, pessoas que priorizam salvar, acolher, resgatar e amparar materialmente ou afetivamente seu próximo, eis aí o princípio da fraternidade em seu momento mais puro.

Os voluntários não tinham títulos, nem fizeram seus trabalhos amparados de assessores ou mídias, nem mesmo escolheram ou priorizam grupos (pessoais ou de apoiadores), não criaram critérios para salvar ou atender, simplesmente fizeram. Os voluntários não exigiram elogios públicos, não pediram para terceiros citar seus nomes em entrevistas locais, ou  referências aos números que salvaram ou atenderam, eles simplesmente fizeram. 

Não houve comando, palanques ou um líder determinando ordens, para aqueles de intenção pura e caridosa, já se sabia instintivamente o que fazer, a prioridade esteve no salvar e atender seja quem for. Mas, haviam aqueles que viram a oportunidade, com intuições pouco republicanas e caridosas, afinal o pleito de outubro se aproxima, e haverá aqueles que repugnantemente usaram imagens, histórias e suas tendenciosas ações na crise para justificar pedidos de votos. 

A estas pessoas somente o sentimento de repúdio servirá. Aqueles que usar da crise e fragilidade das pessoas para angariar títulos, votos e alimentar suas ambições pessoais, não merecem ser chamados de voluntários, muito menos ocupar espaços de representação pública, pois vimos o que ocorre com a ambição em momentos de crises, como o ocorrido nos alagamentos, os líderes locais, cuidam de si e seus vassalos, depois criam mídias, alimentam o terror, acusam aleatoriamente, preparam a próxima eleição e fazem pseudo-caridade com doações e recursos do próprio povo. 

O assunto ainda renderá grandes conversas e debates, esperamos que as pessoas se recuperem como uma fênix, e que ascendam mais fortes e com melhores consciências. As lições foram muitas, precisamos aprender, tivemos atores que protagonizaram ações positivas, mas tivemos aqueles que esperaram-se melhores ações, que não vieram. 

A resposta do povo deve ser na esfera democrática, espero como cidadão – opinião – que em outubro as pessoas entendam que obrigação de fazer não é caridade, que o cidadão/eleitor termine com essa cultura brasileira de idolatria a políticos, assim faremos escolhas melhores, renovando nossa representação. No fim, esperamos que a natureza nos dê tempo para recuperação pessoal e reconstrução, por mais que a verdade seja que “O homem argumenta, a natureza age”, Voltere. 

Muita luz a todos. 

 

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Rodrigo S. de Souza
Rodrigo S. de Souzahttps://realnews.com.br/
Comentarista, Bel. Direito, Advogado, Sociólogo e Político.

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