Aprendi com o marxismo que numa sociedade classista, as instituições tendem a defender a classe dominante. Ainda assim, temos avanços em função dos duros embates na luta de classes, buscando a velha democracia em prol dos direitos das maiorias.
Nesses avanços, chancelados pelo que é legal e instituído, como na nossa constituição, temos interpretações e flexibilidades, a exemplo dos acordos de leniência e delações premiadas, em nome de “pegar os peixes maiores”.
Confesso que isso me incomoda, e as conceções devem sim ser revistas; as “desinteligências artificiais” devem ser barradas!
Agora, a mentira e a sedução com o apelo religioso, utilizadas para “democraticamente” passarem por cima da justiça, são abomináveis.
Os bolsonaristas fizeram isso na manifestação na Paulista! Ora, anistia para financiadores, golpistas fascistas, com discurso e provas inegáveis, não combina com democracia, pelo fato da anuência ao seu próprio aniquilamento, em detrimento da maioria da nação.
E o discurso e as lágrimas de Michele, usando o santo nome de Deus em vão, além de teatral, reafirmam um estado não laico. Fora que agora estão tachando o estado de Israel de “Cristão”, numa clara anuência ao genocídio Palestino.
Quando os golpistas ficam se vangloriando dos 180 mil em sua manifestação, é bom lembrar que isso é insignificante diante do fato de que o governo Lula tem 62% de aprovação no país (vamos fazer esta conta).
Além disso, a Paulista tem sido palco da maior parada LGBTQIPNA+ do mundo, chegando em 2023 a 4 milhões de participantes. E, diga-se de passagem, que o movimento da diversidade não combina com a homotransfobia fascista!
A psicanálise contribui neste debate com algumas reflexões:
1. Desmentir a lei é próprio de uma estrutura perversa.
2. Em “Totem e Tabu”, Freud nos mostra que o marco civilizatório tem como base a lei de interdição do incesto.
3. Com Lacan: apostamos no discurso verdadeiro que liberta o sujeito desejante e o desejo é com gozo, mediado pela lei.
4. A ética da psicanálise lacaniana é do desejo nestas bases.
5. Como psicólogos, temos como fundamento ético combater toda forma de opressão e discriminação (profissionais que não são coerentes com isso devem ser denunciados).
Seja no campo social, em extensão, ou na clínica individual, a psicanálise, desde sua origem, foi reveladora da verdade, da sexualidade infantil, dos mecanismos inconscientes. Quem se analisa tem um patrimônio de verdade, de seu desejo claro, para o resto da vida.