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Fé, Espiritualidade e Psicanálise

Embora a fé não esteja necessariamente ligada à religião, geralmente não se dissociam. Na obra “O Futuro de uma Ilusão”, entre algumas postulações, Freud nos fala que as religiões têm o papel de conter as pulsões (sem necessariamente sucesso, nos conflitos étnicos-religiosos), além de lidar com o medo da morte, bem como com o desamparo primordial, através da crença em Deus, o Pai.

Há algo fundamental que se une às referidas posições freudianas: a fé religiosa como “ilusão” não implica em ser algo falso, pois está relacionada à realização do desejo. Lacan, na mesma linha, nos diz que a Religião sobreviverá por apaziguar a angústia.

Os embates entre ateus e crentes são frequentes no campo filosófico e nas redes sociais. Em qualquer posição, não há garantias de inibir sofrimentos existenciais. Ateus também são crentes, sem provas, na não existência Divina. Neste debate, estou ousando falar de dois lugares: como espírita e psicanalista. Como Kardecista, estudando o seu aspecto cinético, fiquei convencido da sobrevivência da alma.

Kardec usou o método cinético para sua confirmação, observando o fenômeno “Das mesas girantes” nos saraus em Paris, no final do século XIX (algo como o “jogo do copo”). Com isso, obteve respostas que não poderiam ser dos vivos presentes. Foi então, trocando experiências com pesquisadores de outros lugares (vejam em “O Livro dos Espíritos”).

Freud fugiu de qualquer viés metafísico, buscando fazer a psicanálise o mais próxima da ciência positivista, embora os mecanismos do inconsciente não sejam quantificáveis. Tanto que Lacan enfrentou o “Cogito Cartesiano” com sua máxima: “Sou onde não penso”.

Se há algo não-opositivo entre espiritismo e psicanálise é que devemos nos responsabilizar pelas nossas trajetórias anímicas e fazer a diferença para uma vida melhor. E um psicanalista ético jamais vai bater de frente com as crenças de seus pacientes, mas escutar o que eles fazem com o seu pensar, no campo do sofrimento psíquico e do desejo.

A fé também pode ir para um campo de esperança ou de fanatismo delirante: temos exemplos como Ivete Sangalo “desconstruindo” o discurso apocalíptico de Baby Consuelo. Ainda assim, usando os princípios de realidade, sem mudanças urgentes no trato ambiental, o apocalipse não é de todo impossível. Eu fico com a Ivete, na esperança, na militância que “desconstrói” a perversão do capitalismo neoliberal.

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Gaio Fontella
Gaio Fontellahttps://realnews.com.br/category/opiniao/blog-do-gaio/
Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista e produtor do “Café com Análise”, no Youtube.
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