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As Fantasias no Carnaval

O Carnaval, nossa maior festa popular, presta-se para reflexões de várias ordens, também à psicanálise, meu referencial, neste ano para pensar nos sentidos do que nomeamos como fantasia.

Assim como as indumentárias de uma escola de samba dizem do seu tema enredo, certamente a escolha de uma fantasia, na singularidade de cada folião, diz da sua subjetividade.

Lembro que já nos meus carnavais de clube era comum homens e mulheres, namorados, amigos ou casais, fazerem duplinhas brincando com a inversão de gênero. E isso era tão tranquilo que ninguém pensaria algo sobre suas preferências sexuais. E a imaginação, o que temos de mais livre, pode ter espaço no “reinado de momo”.

Ainda seguem bem sadias estas brincadeiras que venho testemunhando nos carnavais de Florianópolis, nos blocos pelo país afora. Aqui em Porto Alegre, não ficamos atrás: há mais de 30 anos, temos o “Bloco das Donzelas”. Um componente deste coletivo disse que é bom liberar seu lado “feminino”.

Com isso, refletimos que estas tentativas de restringir gênero e/ou orientação são muito pobres, pois não dão conta dos direcionamentos atinentes à sexualidade, que passam por identificações, no viés psicanalítico.

Rogéria, saudosa, a travesti artista, que conheci pessoalmente, dizia: “Pelo fio condutor de minha sexualidade, enquanto uma atriz, posso me sentir uma mulher”. Esta é uma bela lição para entendermos que, na nossa neurose, somos também atores e a representação nos permite expressar nosso inconsciente que no desejo pode ter diversas matizes.

Qual é tua fantasia? Um arlequim, pierrô ou colombina? Na pesquisa clínica, fico curioso de ouvir o que analisandos podem associar com suas questões e desejos.

A tradicional fantasia e preferência sexual do brasileiro por bundas é bem mais aguçada no carnaval, mas não significa liberdade de assédio, sem consentimento. Recentemente, no “Planeta Atlântida”, o sucesso e a beleza de Luiza Sonza cederam espaço de destaque às suas nádegas expostas com estilo. Além do fantasioso, liberou a crítica misógina e machista, pois corpos de homens seminus incomodam bem menos!

O carnaval nos concede espaço para um esbanjamento pulsional: com o som, com o brilho das lantejoulas, paetês e purpurinas, bem como com o orgiástico no campo gastronômico e sexual. Bom lembrar que Freud já dizia em relação à bebida: “O álcool libera o que gostaríamos de fazer sãos”.

O fundamental é não esquecermos a pulsão de saber: que não permite, na lei, abusos violentos e criminosos.

E as fantasias de um Brasil comunista sem esquerda corrupta estão sendo dissolvidas, sem lugar pra Mito fascista. A fantasia da impunidade está com dias contados: a Polícia Federal não está de carnaval, acabando com a folia dos golpistas do 8 de janeiro, da ABIN e do gabinete do ódio!

Em tempo: sem alienamento do prazer, as fantasias seguras e saudáveis estarão livres com agito de todos os blocos, neste sábado na Orla do Guaíba. Bom Carnaval!

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Gaio Fontella
Gaio Fontellahttps://realnews.com.br/category/opiniao/blog-do-gaio/
Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista e produtor do “Café com Análise”, no Youtube.
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