O Primeiro de Janeiro, instituído como o dia mundial da paz, assume um grande valor simbólico para reflexões objetivas e subjetivas deste propósito, no micro e no macro social e político, em meio a tantas guerras.
Bom lembrar que ser pacífico é diferente de ser passivo, omisso e dissimulado diante de embates que tocam indistintamente a todos nós. Não posso, por exemplo, em nome da paz, não contextualizar quem faz um raciocínio indutivista que defender Palestinos é ser antissemita. Tampouco, que o sionismo se justifique na defesa das vítimas de Israel (que merecem igual empatia).
Bem provável que os indutivistas vão taxar de antissemitismo o apoio do governo Lula à denúncia da África do Sul na ONU, pedindo apuração se Israel cometeu genocídio com o povo palestino.
É impossível, em nosso Brasil que se reergue, darmos anistia aos golpistas, fascistas, do 8 de janeiro ou enfrentar a volta do garimpo ilegal com bandeira branca. A Democracia é imperfeita, mas sem ela, não temos um caminho pacificador.
Enquanto houver luta de classes, uma paz plena fica no utópico. O que podemos ter nesse processo? Aposto em valores humanitários e nas leis que barrem todas as destruições que são promovidas em defesas classistas, de privilégios e preconceitos. A natureza sem paz não dará sustento a ninguém.
A fome, quando “grita”, não faz diferença de classe, gênero, raça. Pensei nisso, revendo a nova versão dos sobreviventes dos Andes, no filme “A Sociedade da Neve”, na Netflix. O valor da vida, que requer o direito a sobreviver, com um dilema brutal, se impõe e justifica comer carne humana e, pior, de afetos que não sobreviveram. Sem apologia, como julgar quem rouba pra matar a fome? Judicializar tal ato é cômodo, quando a demanda é por “Fome Zero”, apostando no aprimoramento com “Bolsa Família”, desemprego que cai e avanço nas políticas públicas afins.
Quando a fome, necessidade básica primordial, não é atendida, que mais um sujeito almejará? E o desejo é de outra ordem: citando os Titãs, “a gente não quer só comida, quer prazer, diversão e arte”.
Alguns embates não valem a pena! Podemos garantir nossa paz evitando: gente negacionista, preconceituosa, desumana, que não escuta argumentos argutos, democráticos, sensíveis. A eles, os rigores da lei.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), já em 2002, trazia a preocupação com a crescente violência, dentre os principais problemas sociais e de saúde pública.
No campo psicanalítico, Freud não separava o clínico do social: não encontramos paz nas condutas autodestrutivas, guiadas pela pulsão de morte nos relacionamentos e na vida em sociedade e no trabalho. A angústia não é pacífica, mas vem como sinal do desejo insatisfeito, demandando simbolização.
Segundo a visão Freudiana, nosso aparelho psíquico estará sempre buscando uma homeostasia, equilíbrio entre sofrimento e prazer. E do ponto de vista pulsional sexual, como o objeto muda constantemente, podemos ter satisfações provisórias, que são de paz.
Quem busca a paz tem que encontrá-la dentro de si, assumindo as guerras internalizadas, recalcadas e as que surgem como metáforas daquelas, nos sintomas que destroem uma vida mais saudável. Investir na análise pessoal, apostando na cura pela palavra, nos trará uma paz e felicidade relativas, possíveis, no meio das guerras internas e externas.